Você já passou um 1º de abril? Se entendeu o sentido dessa expressão, é provável que tenha passado, pois o próprio verbo passar, assim empregado, é revelador de um tempo pretérito em que as mentiras podiam ser simples brincadeiras. Hoje, como sabemos os que já se vacinaram por idade, é celebrado o dia dessa polêmica senhora que nos rege, guarda, governa, ilumina e amém.
Dona Mentira pode se apresentar feia ou bonita e sempre haverá alguém que acredita.
Pois aproveito esta data tão significativa para sugerir duas leituras. A primeira é de um dos meus escritores favoritos, o peruano Mario Vargas Llosa, autor de fantásticas ficções e de ensaios igualmente contundentes, como um livrinho cujo título é quase um oxímoro: A Verdade das Mentiras. Nessa obra, Llosa examina clássicos da literatura mundial e faz uma defesa apaixonada da fabulação:
— Inventamos a ficção para poder viver, de alguma maneira, as muitas vidas que quiséramos ter, quando apenas dispomos de uma única — justifica.
Ler um bom romance, garante ele, é viver aventuras e experiências que talvez nunca tenhamos a oportunidade de encontrar na nossa própria existência.
Corta para a segunda dica, que é exatamente isso: uma aventura maluca no país da mentira. Refiro-me à história infantojuvenil de Pedro Bandeira, que se chama exatamente Alice no País da Mentira. É muito divertida. Pelo olhar da menina, o criativo escriba nos confronta com uma variedade de mentiras que todos conhecemos bem, como o Blefe, o Engano, a Bobagem, o Mal-entendido, a Fofoca, a Bravata e até alguns monstrengos como a Fraude, a Injúria e a apavorante Mentira Cabeluda.
Alice foge dela e vai cair no País da Verdade, para descobrir que lá a população também é bastante diversificada. Nem todas as verdades são iguais e nem todas são do bem, como se poderia ingenuamente imaginar. A Verdade Absoluta, por exemplo, costuma ser mais danosa do que muitas mentiras.
Porém, como tudo depende do cristal com que se mira, confiram com seus próprios olhos e depois me digam se gostaram.
Feliz 1º de abril.