Retardatário digital assumido, só agora tive a curiosidade de ver o controvertido documentário O Dilema das Redes, na Netflix. Minha conclusão é de que se trata de uma grande teoria da conspiração, porém com provas muito convincentes. Ou seja: o filme escancara uma verdade inconveniente que a maioria de nós prefere não ver, não ouvir e muito menos evitar.
Um vício coletivo — acho que essa é a melhor definição. Um dos depoentes do documentário lembra que apenas duas indústrias chamam os seus clientes de usuários, a da droga e a do software. Estamos falando das redes sociais, essas maravilhas tecnológicas que nos oferecem diversão, comunicação instantânea e palco, em troca da nossa alma. E da nossa atenção exclusiva.
Você é o produto — advertem quase que unanimemente os entrevistados, a maioria especialistas da alta tecnologia e ex-colaboradores das chamadas big techs, que enfrentaram dilemas éticos no trabalho de elaborar algoritmos e estratégias para magnetizar usuários. Eles asseguram que a inteligência artificial já domina o mundo e manipula a nossa vontade, explorando impiedosamente as nossas vulnerabilidades psicológicas.
E daí? — dizemos nós, convencidos de que a troca de mensagens e vídeos com os amigos da nossa bolha vem nos salvando da solidão e do isolamento total, principalmente nesses tempos de quarentenas eternas. Porém, os denunciantes argumentam que a ilusão de tanta amizade virtual não compensa os males emitidos pelas nossas caixinhas de Pandora digitais — ódio instantâneo, polarização de opiniões, cancelamentos raivosos, fake news, teorias conspiratórias, manipulação política, lavagem cerebral e dependência tecnológica, entre outros.
Você não é apenas o produto. É, também, o alimento deste monstro capaz não apenas de gerar terraplanistas, negacionistas e outros discípulos da ignorância, mas também de colocá-los em posições de comando na sociedade. Como os dementadores dos livros de Harry Potter que sugam a felicidade humana e disseminam a depressão, as redes sociais nos hipnotizam e manipulam nossos desejos e nossas ações. E lucram muito com isso.
Achei que era só um documentário. É um filme de terror.