Sempre que volta à pauta o conflito entre criacionismo e evolucionismo, reaceso com a recente indicação de um defensor do design inteligente para a presidência da Capes, eu me lembro da história da dama inglesa escandalizada com as primeiras notícias sobre a teoria de Darwin, de que seríamos todos descendentes de macacos:
– Tomara que não seja verdade! – disse ela, horrorizada, e complementou: "Se for, tomara que ninguém fique sabendo!".
Saber ou não saber, eis a questão. A árvore do conhecimento, também identificada biblicamente como Árvore da Ciência do Bem e do Mal, parece mesmo estar na origem desse debate interminável que de vez em quando desemboca no sistema educacional brasileiro. Afinal, as escolas devem ensinar a teoria da evolução biológica das espécies, o relato do Gênesis cristão ou ambos?
Ensinar já é um verbo pra lá de pretensioso. Tem gente que ainda confunde orientação e facilitação ao conhecimento com lavagem cerebral, ignorando que os estudantes têm acesso a múltiplas informações, dentro e fora da escola. Além disso – acho que ateus e crentes concordam nesse ponto –, existe o tal livre-arbítrio. Socorro-me de uma antiga anedota de Verissimo para lembrar que cada cabeça pode ser mesmo uma sentença. A mãe, conta o escritor, obrigava os três filhos a rezar diariamente diante do mesmo santo: um ficou devoto de São Jorge, outro do cavalo e o terceiro do dragão.
A piada é boa, mas seria ingenuidade demais acreditar que o que os professores dizem não influencia crianças e adolescentes em formação. Porém, como nossa Constituição assegura liberdade de crença (e, por extensão, de descrença), além de definir o Estado brasileiro como laico, isto é, neutro em relação à diversidade de credos presentes na sociedade, me parece que a regra é clara: na aula de ciências, evolucionismo; na aula de religião, que não pode ser obrigatória, suprimentos para a alma.
Na minha agnóstica opinião, Deus e Darwin podem conviver harmoniosamente nas nossas escolas se os seus discípulos forem menos radicais e mais tolerantes. Aliás, li outro dia uma historinha saborosa sobre esse hipotético encontro. Darwin morre e, para sua surpresa, vai parar na porta do céu. Mas é barrado por Deus, que condiciona sua entrada ao reconhecimento de que Ele foi o responsável pela Criação.
Se você viajou comigo até aqui, imagine uma resposta para o cientista e mande para o meu e-mail. Com a neutralidade que meu ofício impõe, prometo selecionar as duas mais criativas, civilizadas e curtas – de um lado e de outro, evidentemente – para publicar na próxima vez em que voltar ao tema.