Um clube de futebol da terceira divisão do Egito contratou recentemente um jogador de 74 anos. Obviamente, fiquei entusiasmado com a notícia. Mostrei o jornal para minha mulher e brinquei:
- Olhaí! Quer dizer que eu ainda tenho chance.
Ela nem riu. Sabe muito bem que não tenho mais fôlego nem para futebol de botão, pois acompanhou de perto minha longa e persistente trajetória de peladeiro de fim de semana. Percebeu antes de mim a passagem do tempo com uma observação fulminante:
- Antes, você voltava suado e estropiado dos jogos. Agora, volta sem voz.
Na verdade, já faz algum tempo que sequer grito para os companheiros passarem a bola. Como disse uma vez o senhor Édison Arantes do Nascimento, que já foi uma fortaleza física e hoje ironicamente amarga uma cadeira de rodas, é melhor parar por vontade própria antes que peçam para você parar. O deus Cronos, todos sabemos, é impiedoso até com os gênios.
O próprio idoso contratado pelo 6 de Outubro do Egito deve saber muito bem que não tem mais condições atléticas para enfrentar jovens que celebram suas conquistar com saltos mortais. Eez El Din Bahder, iraquiano naturalizado israelense, só se propôs a jogar duas partidas como profissional para entrar no Guinness Book, o Livro dos Recordes, passando assim a ser o atleta mais velho a participar de uma competição oficial.
Ainda assim, vou torcer por ele. De alguma maneira, esse obstinado me representa. Sei bem como é isso. Sempre que um veterano chuta a bola, o garoto que o habita grita gol. E, às vezes, até dá um imaginário salto mortal.