Divido 2020 por quatro: 505. Resultado exato, sem a necessidade de vírgula para separar a parte inteira da parte decimal. Os velhos, quanto mais velhos, mais vírgulas usam – sentenciou Mario Quintana com deliciosa ironia. Fiz a continha, como nos tempos de escola, para ter certeza de que o próximo ano será bissexto. Bis sextum, duas vezes o número 6 na representação dos seus 366 dias. O que significa tudo isso? Nada! – como gosta de dizer o Tadeu Schmidt com as sobrancelhas em vê. Apenas convenção. Coisas deste bicho-homem que gosta de fazer ironias, piadinhas e crônicas.
A natureza não dá a mínima para a nossa contagem de tempo: la notte insegue sempre Il giorno, ed Il giorno verrà – como cantava Jimmy Fontana, agora nos meus tempos de namoro com a garota quase italiana que se tornaria minha companheira de vida inteira. Al di la delle stelle, ci sei tu – para citar outra canção que amo desde aquela época pretérita e fazer média em casa. Além das estrelas, estão também outros planetas e outros sóis que cumprem suas viagens espaciais sem a vigilância e a pressão dos cronômetros humanos.
Inventamos tudo isso. Inventamos o Natal e o ano novo. Inventamos o relógio, o automóvel, os shoppings centers e essa correria insana que gera mais estresse do que felicidade. Inventamos a internet, as redes sociais e a hipocrisia da perfeição que nunca alcançaremos. Inventamos até a angústia. Você que inventou a tristeza, ora, tenha a fineza de desinventar – interpretou genialmente Chico Buarque, lembrando que amanhã há de ser outro dia.
Pois, o que será será. Para isso inventamos também o amor, a compaixão, a solidariedade, a empatia e a poesia, entre tantos sentimentos que dignificam a nossa humanidade. Vem aí um ano de 366 dias. Pelo nosso calendário gregoriano, um dia a mais para a gente desfrutar e o acerto de contas para os aniversariantes de 29 de fevereiro. Parabéns a eles. E, para todos nós, uma oportunidade a mais para desinventar os percalços e reinventar a vida.