Desmascarei o aplicativo do envelhecimento. Peguei uma foto minha de 50 anos atrás, recém saído da adolescência, cabeludo, sem barba nem calvície, e lancei no filtro do FaceApp. Apareceu um zumbi do Walking Dead, tão assustador que, ao vê-lo, minha mulher fez uma rápida comparação mental e concluiu:
– O verdadeiro está um pouco melhor!
Preferi interpretar a ironia como elogio. Aquela figura construída em milésimos de segundos pelos duendes da tecnologia não tem mesmo muito a ver comigo, ainda que mantenha alguns traços da minha aparência juvenil. As rugas, porém, são absolutamente falsas, totalmente artificiais. As que trago no rosto, mesmo aquelas estrategicamente cobertas pela barba, têm suas próprias histórias. Foram desenhadas com muito mais arte pelos deuses do tempo, com a aquarela das conquistas árduas, dos sonhos frustrados, dos amores nem sempre correspondidos e das inevitáveis perdas efetivas.
O envelhecimento do corpo tem o seu próprio ritmo e particularidades inimitáveis. Entendo a diversão dos jovens em antever o futuro nas imagens virtuais que lhes chegam sem dores nem dissabores. Mas, credenciado pela geada dos cabelos que me restam, sugiro-lhes que curtam mais o App do presente, amem-se, aventurem-se, divirtam-se, pois o implacável caricaturista da velhice – o tempo cronológico - já tem esboços prontos para todos os que tiverem a ventura de chegar lá.