Sei que muita gente não perdoa o ministro naturalizado que chamou os brasileiros de canibais (apenas quando viajam, é verdade) e sugeriu que as escolas filmem as crianças cantando o Hino Nacional (o nosso, não o da Colômbia) numa mensagem com o slogan eleitoral do atual presidente, paradoxalmente um defensor da escola sem partido. Mas ele pediu desculpas pelas duas pisadas na bola. E, se entendi bem aquele portunhol arrevesado, parecia sincero. Por mim, está perdoado.
Só não gosto da ideia de obrigar crianças a cantar o hino, perfiladas como soldados. Desse jeito, vai parecer um castigo. Prefiro que meninos e meninas sintam orgulho do nosso hino e prazer em cantá-lo. Para isso, não basta exigir que decorem e repitam palavras cujo significado sequer compreendem. Decifrar o hino, analisar o hino e entender a mensagem do hino é que deveriam ser ações obrigatórias nas escolas.
Apesar do estilo parnasiano, das metáforas, das palavras rebuscadas e das inversões sintáticas, nosso hino é lindo. Um pouquinho extenso, talvez, mas tem uma melodia maravilhosa e uma letra inspiradora. Quando ouvimos os primeiros acordes, já ficamos emocionados. Acho que a maioria dos brasileiros se sente assim, pois a exaltação à terra em que nascemos sempre mexe com os nossos mais recônditos sentimentos patrióticos.
O Hino Nacional é parte essencial de nossa identidade. Não pertence aos militares nem deve ser confundido com o governo de plantão, seja ele qual for. Ele representa todos os brasileiros, inclusive os naturalizados. E até mesmo os canibais, se existir algum.