Entre as crônicas antológicas de Luís Fernando Verissimo (a maioria), lembro de ter lido uma dos anos 1970 em que ele refletia sobre o apresentador de televisão ideal para dar a notícia do fim do mundo. Não recordo se escolheu alguém especificamente, mas acredito que, na época, o Cid Moreira seria imbatível com aquela sua voz de trovão divino. Como o mundo mudou – e não terminou –, sugiro um novo nome para essa imaginária missão de âncora do apocalipse: Maju Coutinho.
A moça do tempo arrasou na sua estreia no Jornal Nacional. Falou sobre as tragédias cotidianas e as falcatruas nacionais com a mesma serenidade de suas análises diárias das variações climáticas. Num país continental como o nosso, porta-vozes de previsões meteorológicas são vistos sempre com desconfiança, pois as pessoas costumam valorizar os erros e desconsiderar os acertos. Os avanços tecnológicos – radares, satélites, computadores, internet, etc. – elevaram os índices de correção para cerca de 90%, mas basta uma chuvinha imprevista para desmoralizar todo um trabalho científico. E quem invariavelmente paga o pato é o mensageiro. Por isso a simpática apresentadora da Globo costuma se vacinar.
– É previsão, minha gente. Não é precisão – repete.
Maria Júlia Coutinho passa credibilidade exatamente pelo seu jeito simples, objetivo e didático de transmitir informações sobre as armadilhas do clima. Sem exageros nem gracinhas, mas também sem renunciar ao toque pessoal, ela conquistou o público principalmente pela discrição e pelo profissionalismo. Foram essas qualidades que a moça levou para a bancada do Jornal Nacional no último sábado (16). Mereceu o reconhecimento recebido, tanto do público quanto dos colegas de ofício. Daí a minha conclusão: se tivermos que ouvir a notícia do fim do mundo, que seja pela voz doce e tranquilizadora de Maju.
Desdenho do perigo, sei disso, principalmente nesses dias atormentados por lideranças mundiais de poucas luzes. Mas nem estou sendo original. Existe inclusive uma brincadeira antiga, muito popular entre os jornalistas, que relaciona a linha editorial de cada publicação com o tipo de manchete que daria sobre uma provável hecatombe final do planeta. Para evitar debates irracionais, reproduzo aqui apenas o título atribuído à ZH pelos autores da gracinha:
– O Rio Grande vai acabar.
Bairristas, nós? Que injustiça.