Tem ruas demais nos buracos de Porto Alegre.
Tudo bem, já devíamos ter inventado um meio de transporte que nos livrasse da dependência do automóvel. Não faltaram tentativas, cabe reconhecer, mas a maioria ficou apenas na ficção, como aquele skate voador do filme De Volta Para o Futuro. O mais perto de algo realmente concreto ocorreu em 2001, quando um americano lançou o Segway Human Transporter, aquele patinete motorizado que obedece à inclinação do corpo do seu tripulante. Mas o invento, que chegou a ser anunciado como coveiro da indústria automobilística, acabou restrito a shoppings, supermercados e aeroportos, exatamente pela necessidade de pistas absolutamente planas.
Por aqui, como o metrô e o trem-bala nunca saíram dos palanques eleitorais e o aeromóvel enferrujou, resta-nos continuar trafegando em veículos poluentes e dispendiosos – por vias cada vez mais intransitáveis. Parafraseando um conhecido discurso político, nunca na história desta cidade se viu tanto buraco. Tem para todos os gostos: panelas, crateras, fissuras, trincas e até trincheiras. Mas a campeã absoluta de incômodo para os motoristas porto-alegrenses é a tampa de bueiro.
É difícil de entender por que tantas entradas para os dutos subterrâneos têm que ser colocadas no meio das pistas de rodagem. Talvez haja uma explicação técnica para isso, confesso que sou leigo no assunto. Mas ninguém precisa ser especialista para perceber que o desnivelamento desses equipamentos em relação ao piso decorre de imperícia na execução e falta de manutenção. Tampas rebaixadas ou elevadas são verdadeiras armadilhas, não apenas para os motoristas, mas também – e principalmente – para os condutores de motos que costumam trafegar a centímetros dos automóveis. Aí mora o perigo. Sempre é possível consertar um pneu furado ou uma suspensão avariada, mas não há reparo para vidas perdidas e pessoas mutiladas. Os condutores que costumam fazer o mesmo trajeto sabem quando trocar de pista e quando diminuir a marcha, mas os desavisados acabam apelando para o freio ou para guinadas bruscas, que invariavelmente resultam em acidentes.
Autoridades alegam que o rombo maior e mais danoso é o das finanças públicas e que a degradação urbana está ligada diretamente à falta de recursos.
É verdade, mas não toda a verdade. Obras malfeitas e pistas que se desmancham só confirmam que o dinheiro dos impostos foi mal administrado e acabou indo, literalmente, para o buraco.