Seja por ter uma presidente mulher, por contar com um treinador peculiar ou por revelar em série jogadores acima da média, o Palmeiras é o que há de mais diferente de todo resto do futebol brasileiro neste início de maio de 2024. Esta condição, combinemos, o clube paulista vive há bastante tempo e a cada oscilação para baixo somos induzidos, as outras torcidas e nós outros, jornalistas esportivos, a projetar o fim da longa hegemonia palmeirense.
Qual o quê. O Palmeiras se alimenta do sucesso e do fracasso para renascer do nada e desfazer prognósticos pessimistas de que, enfim, chegou no limite. Veja o jogo vencido com enorme dificuldade na quinta-feira (2) pela Copa do Brasil. Abel Ferreira escalou time misto, privilegiou meninos feitos em casa e sangrou para fazer 2 a 1 nos acréscimos.
No estádio quase lotado, deu a clara impressão, quando sofreu o gol de empate do Botafogo de Ribeirão Preto, de que não conseguiria, nos escassos minutos restantes, reagir à falha do goleiro Marcelo Lomba no 1 a 1 e seu ânimo, afinal, seria insuficiente para um segundo gol que daria cara de goleada à vitória do anfitrião. Já não havia Raphael Veiga e sim Rômulo, meia-armador destaque do Paulistão pelo Novorizontino. Ainda estavam em campo Endrick e Estêvão, nenhum deles ainda perto dos 20 anos de idade.
Pois bem, no último lance da partida, Rômulo fez um lançamento espetacular para Estêvão às costas do seu marcador. O garoto saltou para matar a bola no peito, deixou quicar uma vez no gramado artificial e concluiu de pé esquerdo por baixo do goleiro. O menino foi ao chão e às lágrimas quando soou o apito final. Por conta de sua qualidade e da coragem de Abel Ferreira em escalá-lo por reconhecer que também há personalidade no meia-atacante, Estêvão está cotado a R$ 300 milhões para ir jogar no Chelsea.
Endrick se apresenta no meio do ano ao Real Madrid. Luís Guilherme deve ser o próximo. O Palmeiras que contrata Felipe Anderson para a janela do meio do ano é o mesmo que cria e aproveita talentos que faz em casa antes de vendê-los a preço europeu.
O clube paulista já conquistou o Paulistão outra vez, é o atual campeão brasileiro e será primeiro em seu grupo na Libertadores. Deve passar pelo Botafogo em Ribeirão Preto no jogo de volta da Copa do Brasil. Mas não vai ser campeão de todas as competições que participa em 2024. Humanamente impossível mesmo para quem consegue controlar o processo competitivo com a excelência de Abel Ferreira.
Leila Pereira preside o clube com firmeza e zero arrogância. Enfrenta organizadas dispostas a um poder que não devem ter. Diz todas as palavras necessárias para explicar que não vai gastar além do que seria responsável gastar. Ao mesmo tempo em que afirma gostar da ideia de ter o técnico português para sempre no clube, é capaz de enfrentá-lo quando, no calor da emoção, Abel se passa nos microfones. Há um time de quase anônimos a garantir o azeite da engrenagem.
Acima de tudo, o Palmeiras encontrou, obra e graça do trabalho citados e não citados na coluna, a fórmula da cultura de competição que o faz tão diferente dos demais. Isso, inclusive do mais rico do que ele Flamengo, treinado por um grande treinador mundialista e dono do melhor elenco da América Latina. Quem quiser ser campeão de Brasileirão, Copa do Brasil ou Libertadores terá de ser melhor do que o Palmeiras.
A dupla Gre-Nal e a parada forçada
O Inter terá Valencia e Alan Patrick à disposição para começar a encaminhar de vez sua classificação à vaga direta de Sul-Americana terça-feira (7) contra o Tomayapo, no interior da Bolívia e sem altitude. Estarão ainda longe do melhor momento técnico em que ambos se procuravam em campo em paralelo ao resto da mecânica do time de Coudet.
Acima de tudo, o treinador colorado contará com um time descansado para enfrentar não só esta partida, mas as que virão em seguida de três em três dias com caráter decisivo na Copa do Brasil e no Brasileirão. Os jogadores e o técnico são devedores junto à torcida e mesmo à direção que lhes dá as melhores condições de trabalho. Passou da hora de começar a pagar a dívida. Mesmo que parcelada.
O Grêmio também contou com fatores extracampo para poder descansar até o jogo-chave contra o Huachipato, na próxima quarta-feira (8). Está faltando fôlego e futebol ao time de Renato Portaluppi, um item claramente conectado ao outro. Porém, o treinador e seus jogadores têm crédito junto à torcida gremista.
Nas duas vezes em que viveram situações-limite na temporada, a resposta foi extraordinária. O Grêmio ganhou o Gauchão em que o Inter era favorito e venceu em La Plata o Estudiantes, o que fez o time gaúcho renascer na Libertadores. Mesmo se não vier o espetáculo — e Renato já disse que nos próximos jogos não vai vir mesmo —, é bem possível que o Grêmio não perca no Chile e vença as duas que restam na Arena, o que provavelmente lhe garantirá o primeiro lugar na chave. Diferentemente do rival, o Grêmio está em dia com sua torcida.