Quando o Grêmio parecia encaminhado com as boas escolhas de Renato Portaluppi quanto a peças e desenho tático, o próprio treinador e a direção do clube instauram uma crise absolutamente desnecessária no episódio Adriel. O nível de exposição ao profissional foi tamanho que Alberto Guerra teve que reconhecer ao microfone que houve exagero.
Agora, conter seus efeitos e administrá-los passa a ser papel de Renato e Caleffi, mas também do presidente. Dias atrás, 24 horas após a divulgação do vídeo de defesa a que o goleiro tinha todo direito, o time em campo estava inseguro e se atrapalhou contra o modesto ABC na Arena. Na área técnica, um treinador especialmente agitado passava mais intranquilidade do que qualquer outra coisa aos jogadores que sempre administrou com brilhantismo e sensibilidade. O Grêmio se classificou empatando em casa com o time da Série C e joga neste domingo contra um dos potenciais candidatos à queda, o Cuiabá no Mato Grosso. Cheio de desfalques e com o emocional abalado por si mesmo, o Grêmio rifou o jogo e não pode assegurar neste momento à sua torcida uma atuação normal.
Do outro lado da rivalidade, o Inter voltou a magoar sua torcida com uma atuação irregular contra um time claramente inferior logo depois de ter vencido de forma épica o Flamengo no Beira-Rio. Mais do mesmo da gema, era o time colorado se atrapalhando diante de jogadores bravos e limitados e se desconcentrando por nada. Durante todo o jogo perdido pelo Inter, jamais houve a devida dominação de quem tem tanta qualidade a mais. A menos que decidamos todos que o Inter não é tão melhor do que o CSA, é razoável exigir do time da Série A que seja seguro e sólido ao enfrentar o da Série C. Vale para o Atlético MG ao jogar contra o Brasil da Série D e se atrapalhar no limite de quase perder a classificação. O curioso, nestes casos, é a argumentação sofista de quem ganha caminhões de dinheiro em pagamento à sua competência de que no futebol são onze contra onze.
Por esta mediocrização proposta na hora da dificuldade, seria lícito propor que jogadores dos gigantes da Série A tivessem salários equiparados aos clubes da Série C ou D. Afinal, se são onze contra onze, vale seu suor, sua organização e, nesta mesma linha de raciocínio, sorte. Esparrela onde cai quem quer. O nível de concentração que oscila de forma tão ostensiva ao disputar jogo grande e jogo menor explica fundamentalmente por que se ganha e por que se perde.
Segunda-feira, maio se apresenta com seu esplendor outonal. Haverá o veranico de maio, dias lindos e brandos, mas também cinzas e frios antecipando o rigor do inverno que virá depois. No mês cinco do ano, só Palmeiras e Fluminense vivem normalidade entre os grandes. A do Palmeiras vem de longo tempo e está sustentada no trabalho de uma direção firme de Leila Pereira fora do campo e na excelência do trabalho do técnico Abel Ferreira. A maré mansa do Fluminense é mais recente e foi catapultada pela confiança adquirida com o título, o primeiro de Fernando Diniz, sobre um Flamengo milionário, mas em pedaços. Aliás, este Flamengo recém começa, com Sampaoli, a se recuperar do desastre gerencial dos seus dirigentes desde o início da temporada.
O Atlético MG tenta conciliar a perspectiva excitante de inaugurar seu suntuoso estádio e pagar sua impagável dívida de dois bilhões de reais. O Botafogo vive dias excepcionalmente bons depois de um campeonato carioca medíocre. Tem cem por cento de aproveitamento no Brasileirão e está classificado às oitavas da Copa do Brasil. Em meio a toda turbulência, manteve o português Luís Castro como treinador e colhe frutos agora. O São Paulo recorreu a Dorival Júnior para ter recuperação rápida de suas incertezas e começa a ter o resultado esperado bem cedo. Dorival fez o mesmo no Flamengo ano passado e teve como bônus a não renovação de contrato por conta da soberba dos dirigentes cariocas. O Santos de Odair e Falcão precisa estabelecer regularidade para não desandar nas três competições em que está envolvido. O Vasco da Gama alivia sua torcida com a sinalização de que não será uma temporada de lutar contra o rebaixamento. O Corinthians não faz a menor ideia do rumo a tomar depois do furacão Cuca.
Para coroar o maio de incertezas, nada melhor do que fechar com a Seleção Brasileira. A CBF vai esperar até o fim deste mês por Carlo Ancelotti. Com a provável confirmação da recusa do italiano ao convite para treinar o time brasileiro, Edinaldo Franco terá conseguido avaliar a repercussão junto à opinião pública dos nomes de Abel Ferreira e Fernando Diniz. Como a próxima Copa classifica até quem estiver passando na calçada, não haverá problema na demora em escolher o novo comandante. Fazer time competitivo depois é outra conversa. Deve ficar para junho. Ou dezembro.