Com a meteorologia garantindo dia lindo para este domingo (23) e temperatura civilizada, Inter x Flamengo vira programa obrigatório para quem veste vermelho e gosta de futebol. Sim, quem me lê, se você se questiona: "Como alguém torceria para um clube sem gostar de futebol?", lembre-se de que existe torcedor que gosta é do seu time, nada mais.
Não pararia para ver França x Argentina na final da Copa do Catar, por exemplo, porque lá não estaria seu clube do coração. Nada errado, cada um desfruta futebol do seu jeito. Mas para quem gosta do jogo em si além das camisetas, o confronto da manhã de domingo é pura nata.
Além do aspecto técnico e tático da partida, há toda a carga emocional que carrega as cores do enfrentamento. O Flamengo estreou Sampaoli com uma vitória promissora na última quarta-feira (19), no Maracanã. Era evidente o frenesi provocado pela presença do treinador argentino.
Com pouco tempo de treinamento, sua equipe já sinalizava as principais características de Jorge Sampaoli. A busca inegociável do gol, velocidade de execução acima da média e, como sustentação deste ofensividade toda, três zagueiros por dentro. O treinador reabilitou Marinho e Vidal, que com ele viveram seus melhores momentos na carreira. Marinho está inventado na ala direita com sua perna esquerda e deu as duas assistências para gol. O volante correu como nunca antes no Flamengo e saiu extenuado. Jogaram juntos Gabigol e Pedro, Everton Ribeiro começou no banco.
É improvável que Sampaoli repita todas as peças neste domingo, o que não significa perda de poder de fogo no Flamengo. O elenco é o melhor do Brasil. Rodrigo Caio, o já citado Everton Ribeiro, Everton Cebolinha e Matheus França estavam sentados no banco.
Bastaram dois jogos — a vitória sobre o Coritiba no Brasileirão ainda com o interino e a da última quarta-feira na Libertadores — para ficar claro que já é outro Flamengo, de novo candidato a todos os títulos que disputa neste ano que começou tão mal por conta da infinita soberba de seus dirigentes.
O Inter comemorou nos últimos dias uma goleada de 1 a 0 sobre o Metropolitanos que o faz autor de uma campanha confortável na Libertadores. Ter quatro pontos em seis disputados é excelente. Flamengo, Palmeiras e Corinthians só têm três. O Atlético MG, zero. O Athletico PR faz o mesmo desempenho colorado.
No Campeonato Brasileiro, o ponto alcançado contra o Fortaleza, no Ceará, não pode ser considerado ruim diante do momento vivido pelo Inter. Então, se o olhar se debruçar só sobre algarismos, não há do que reclamar deste time do Mano Menezes. Porém, basta ir além do superficial para enxergar os problemas que o treinador tem que resolver, alguns deles criados por ele próprio em escolhas equivocadas.
Naturalmente, só o fato de enfrentar o mais poderoso já anima além da conta. Flamengo e Inter, como Grêmio e Palmeiras, Fluminense e São Paulo e por aí afora têm o mesmo tamanho. Gigantes se diferenciam pontualmente no futebol brasileiro pela sua condição financeira. Neste quesito, o Flamengo vive uma cena muito mais confortável do que o Inter.
Com elenco modesto, o anfitrião deste domingo terá que fazer jogo de excelência para ganhar do visitante. Conseguindo, consolida a ideia de um novo ciclo em que a turbulência vai embora e se encontra um rumo a seguir. Empatando, terá evitado o pior diante de um time para quem tantos outros vão perder mesmo jogando em casa. Perdendo, ninguém haverá de bradar "que absurdo!", mas o cenário incerto que angustia a torcida não ganha outro desenho. Fica tudo como está, transfere-se a expectativa para o jogo da volta da Copa do Brasil em Maceió, contra o CSA, quando o Inter jogará por dois de três resultados.
Embora o jogo contra o Flamengo não tenha gravidade de provocar conclusões definitivas sobre o Inter, seu valor está nos efeitos positivos que pode causar em caso de sucesso. Mano Menezes, confio que sim porque é bom treinador, deve ter se convencido de que Pedro Henrique é titular diante das opções do seu elenco. Talvez tenha percebido também que sua saída de bola fica lenta e travada com a dobradinha Baralhas/Johnny. Campanharo, neste contexto, pede passagem como um dos volantes. De resto, seria sensato jogar com John no gol, escolha que me parece inevitável logo adiante se não for feita já.
Vou levantar bem cedo, engolir um frugal café da manhã e tomar o destino do Beira-Rio. Estarei na cabine da Rádio Gaúcha para comentar um dos melhores jogos deste início de Brasileirão. Esteja você onde estiver, desfrute da manhã deste domingo de outono porque, já disse um grande amigo meu dias atrás, a vida é boa.