Pense em alguém angustiado e talvez você resuma este sentimento na figura do presidente da Federação Gaúcha de Futebol. Luciano Hocsman, em seu primeiro ano de gestão, promovia um Gauchão interessante. O Caxias ganhou o primeiro turno cheio de méritos. O produto futebol estava sendo tratado com cuidado e competência pela FGF na nova gestão e, de repente, pandemia.
Quatro meses sem futebol profissional, dúvidas de toda natureza sobre o retorno do campeonato para sua conclusão e, finalmente, o reconhecimento do governo do Estado para com o protocolo apresentado pela FGF. Idealizado por Ivan Pacheco, diretor-médico da entidade, as medidas propostas foram referenciais para outras federações e vê contemplada sua excelência com retorno anunciado para o dia 23 de julho.
Luciano Hocsman era vice de Francisco Novelletto e virou presidente com bastante experiência nas coisas do futebol dos pagos. É fácil imaginar o alívio que sentiu ao sair da reunião da última quinta-feira no Palácio Piratini com missão cumprida. Perguntei ao Luciano coisas pessoais deste período de pandemia sem futebol. Eis algumas de suas respostas:
Primeiro ano de gestão na FGF, um campeonato indo bem e pandemia...o que lhe veio na cabeça?
Na hora em que pintou a pandemia, pensei: não é possível! Cem anos depois e no meu colo? Fui estudar, ouvir especialistas...dias intensos e por vezes desgastantes. Se perdi o sono? Sim, perdi. Já sou uma pessoa que dorme pouco, sou um pouco workaholic ao natural. Imagina nessa hora. Muitas vezes me pegava pensando nas alternativas durante a madrugada.
Como ficou sua relação familiar à medida em que o tempo passava e nada de o futebol voltar?
Minha mulher e meu filho foram muito pacientes e compreensivos comigo nesse período. A Paula também está trabalhando em casa. Eduardo sem escola, imagina...e eu caminhando pela casa ou sempre refletindo. Eles foram meu esteio. Conversei sobre futebol e todas as decisões todos os dias com minha mulher. Foi muito importante.
A sensação principal agora que tudo se encaminha é de alegria ou alívio?
Não sei se é uma sensação de alívio... Acredito que somente quando acabar a temporada, incluindo a realização das demais competições da Federação eu possa sentir isso. Mas é certo que tendo um norte para a sequência do Gauchão, saiu um pouco do peso.
Alívio e Responsabilidade
É só o começo, combinemos. Agora, é preciso que toda sociedade faça o certo para a volta do futebol valer a pena. As pessoas não devem se reunir em aglomeração para ver os jogos que virão no canal fechado. Os que serão transmitidos pela RBS dispensam aglomeração porque qualquer um pode ver. É preciso que torcedores e torcedoras entendam que o Gauchão voltar não antecipa uma normalidade que não existe. Pelo contrário, ajuda a manter as pessoas em casa e retoma a atividade geradora de emprego, renda e entretenimento. Se gera alívio em dirigentes, profissionais de campo e imprensa, o retorno do Gauchão aumenta a responsabilidade de todos que defenderam esta volta.
Não se está retomando o campeonato a qualquer preço. O protocolo foi convincente, não se passou por cima de princípio nenhum. A expectativa de cada um tem que ser ajustada ao possível. É improvável que tenhamos grandes performances nos primeiros jogos do returno por concluir. Os jogos serão emocionantes porque deverá haver muito erro técnico, erro gera gol.
Os protagonistas do Gauchão serão três. O Caxias, que tenta ganhar o returno para ser campeão, o Grêmio e o Inter, que disputarão diretamente entre eles o direito de decidir o campeonato com o finalista já assegurado. Os demais, por toda precariedade financeira e da volta dos treinos, serão figurantes, a menos que algum time surpreenda a todos e tenham fulminante reação.
O Juventude, que se mexeu no mercado durante a pandemia, poderá estrear seus reforços, talvez seja esta força inesperada. Brasil e Pelotas, duvido. Esportivo, Ypiranga, Aimoré, Novo Hamburgo, São Luiz e São José vão fazer o melhor que podem, não creio que possam muito.
Grêmio e Inter
Afora a condição técnica incomparável dos seus elencos em relação aos desafiantes, a Dupla vai disputar com enorme disposição o título deste ano. O Grêmio pretende emendar o terceiro Gauchão consecutivo. Não será pouco para um temporada tão acidentada. Há um conceito firmado no futebol a partir da presença de Renato, Jean Pyerre volta, o time ainda deve a si mesmo um ajuste fino.
O Inter lutará pelo primeiro título da gestão Marcelo Medeiros, o primeiro de Coudet como técnico no clube, quem sabe o último estadual de D'Alessandro como jogador. No Gre-Nal da Libertadores, até o fiasco da pancadaria, as equipes mostraram equilíbrio, o Inter foi melhor durante a maior parte do jogo, o Grêmio tem melhores jogadores no time e no elenco. Coisa pouca, quase imperceptível.
Gremistas e colorados vão prestar muita atenção no que virá a partir de 23 de julho. Além da enorme saudade de ver em campo suas paixões, cada torcida terá no Gauchão um sopro de emoção à qual estavam acostumadas enquanto havia normalidade. A vida da gente está precisando demais de alento. O futebol, com a segurança sanitária devida, pode proporcionar este alento. Que seja bem-vindo.