
Não é metade do ano, o Mundial de Clubes não começou, o Brasileirão tem as questões de sempre — apito, treinador demitido, torcida organizada invadindo CT, cardápio completo — e Grêmio e Inter vivem um maio dramático.
Não estão solitários no drama; o orçamento bilionário do Flamengo, dono do melhor elenco da América Latina, não está impedindo que o atual campeão da Copa do Brasil esteja sob risco de eliminação precoce na fase de grupos da Libertadores nesta quinta-feira.
Flamengo precisa vencer
Basta não vencer a LDU no Maracanã e o mundo cairá pela primeira vez na cabeça do talentoso e iniciante treinador Filipe Luís. No sul do mundo, Mano Menezes e Roger Machado, com grupos muito mais modestos, vivem desafios gigantescos antes do fim do primeiro semestre.
Grêmio não evolui
O Grêmio, por exemplo, não dá um sinal sequer de melhora de desempenho, a menos que o colunista force a amizade e declare como positivo o Grêmio não ter sofrido gol do Santos, que está enterrado no Z-4, e do Clube Atlético Grau do Peru nos últimos dois jogos.
A vitória contra os paulistas tirou momentaneamente o time de Mano Menezes da zona do rebaixamento, mas a performance das últimas três partidas por três competições diferentes foi alarmante.
Derrota na Copa do Brasil, vitória no Brasileirão e empate na Sul-Americana com atuações abaixo da crítica formam o combo de angústias que cada gremista carrega consigo.
Pressão da torcida
Neste sábado, o risco é enfrentar um time cuja pressão de torcida vai abaixo do zero. O Bragantino está pressionado, sim, é pelo seu parceiro endinheirado que tenta dar asas a um clube que não apaixona ninguém. No campo, porém, os resultados são bons, a posição está sólida na parte alta da tabela e o futuro imediato sugere não haver o risco de rebaixamento que o clube paulista correu no ano passado.
Constrangimento
Leve assim, o Bragantino terá pela frente um Grêmio que provocou constrangido silêncio de sua torcida domingo passado durante mais de dois terços do jogo vencido na Arena. O mais otimista dos azuis não se atreve a bravatear uma melhora que ele não vê ou a disfarçar o temor real de um quarto rebaixamento.
A direção se obrigou a antecipar receita do ano que vem, o que significa uma capacidade reduzida de investir em qualidade na janela que se aproxima. Mano Menezes assumiu sabendo de tudo.
Se não tivesse ouvido do próprio dirigente que o procurou, basta prestar mínima atenção no noticiário esportivo para ter noção do tamanho da missão que assumia.
Desde que o técnico chegou, digo que ele será capaz de evitar o pior, mas não avanço além do objetivo mais básico que se possa pensar para um clube da história que o Grêmio traz.
Terça-feira, também em casa, precisa vencer o Godoy Cruz para depender só do próprio resultado contra o Luqueño na última rodada e passar direto para as oitavas de final da Sul-Americana.
Mesmo uma candidatura à competição menos difícil das três em que está envolvido soa pretensiosa neste momento. Mano, após o jogo triste contra o CAG, disse que tudo isso vai passar. Que é preciso trabalhar porque só o trabalho pode gerar uma expectativa mais positiva do que esta que, hoje, qualquer gremista tem.
O Inter foi estudado
Embora campeão gaúcho, a vida do Inter não está mais mansa, não. O time que levantou taça contra o Grêmio há pouco tempo não existe mais. Foi dissecado, estudado e contido por adversários de vários calibres. Do Palmeiras ao Maracanã.
Então, Roger Machado apelou para a velha tradição gaúcha de, na dúvida, trancar a rua. Não deu certo contra o Corínthians antes mesmo de o jogo ficar excepcional e foi ainda pior em Medellin. Não era absurdo perder para o Nacional, a qualidade do adversário justificaria a derrota sem delongas.
No entanto, o fato de Roger repetir a estratégia previamente malsucedida de juntar entre os titulares jogadores de características tão parecidas como Fernando, Tiago Maia e Bruno Henrique sinaliza que o treinador está momentaneamente perdido. Tenho o cuidado de não escrever que Roger perdeu a mão porque seria uma sentença definitiva e precipitada.
Depende só de si
Não creio que seja o que está acontecendo. O Inter segue dependendo só de si para se classificar na Libertadores. Na Copa do Brasil, leva para o Ceará a mínima vantagem que deve ser confirmada em Fortaleza. No Brasileirão, cada novo insucesso torna menos consistente sua candidatura ao título que não ganha desde 1979. Risco de queda, entretanto, inexiste.
O grande peso dos anos sem faixa no peito não existe mais; as dificuldades coloradas agora passam pela iminência da perda para o mercado de jogadores essenciais como Vitão, do desgaste físico no limite de Alan Patrick, da volta de lesão muito ruim do promissor Vítor Gabriel, do nítido cansaço de Bernabei e da queda abrupta de qualidade das atuações de Bruno Henrique no meio.
Não há tempo
Tudo ao mesmo tempo agora. Em meio a três campeonatos, dois deles, eliminatórios. Não há tempo para Roger Machado agir no modo "um problema de cada vez" porque a realidade se recusaria a aceitar falta de agilidade nas soluções. Assim como o rival, o Inter não tem de onde tirar dinheiro para dotar o elenco de melhores reposições aos titulares. Tampouco de contratar titulares que eventualmente saiam. Então, entre as durezas do ofício de Roger está reencontrar-se e, em paralelo, descobrir opções que nada têm de novo. Já fez isso, basta lembrar Bruno Gomes na lateral-direita. Mas nem todo dia é feriado.
Campo sintético
Neste domingo, em campo sintético, quem vem de lá é o Botafogo, atual campeão brasileiro e da Libertadores, só que sem metade do potencial técnico da temporada passada. Perder ou empatar, neste cenário, será normal, o que não quer dizer que não traga consequências sérias. A principal delas, uma despedida virtual da chance real de título brasileiro. Em maio.