A cabeça de Odair Hellmann foi dada à turba enfurecida. Para este domingo (13), está atendido o clamor popular e o treinador vice-campeão da Copa do Brasil não estará na casamata contra o Santos. Embora Odair tenha colaborado para esse desfecho, que não me pareceu o melhor, não bastará tirar o ex-técnico para que tudo melhore pelo pensamento mágico. Marcelo Medeiros, que faz ótima gestão fora do campo, e Roberto Melo, que também realiza bom trabalho no futebol, vão precisar mais do que trocar o treinador.
Esta é a hora, antes que o novo comandante assuma, de enquadrar os jogadores. O próprio presidente disse que não dá para trocar todo o grupo de jogadores. Argumentava, claro, pela necessidade de tomar a atitude que tomou. Se não é possível demitir um grupo inteiro de jogadores, é obrigatório que presidente e vice de futebol, nesta hora, tenham uma conversa franca e dura com o elenco. Tanto quanto se saiba, não há salário atrasado. As condições de trabalho são as melhores. Então, não faz sentido perder todas as bolas divididas para o CSA, que jogava no desespero de tentar não se afogar no Z-4. Parede chegou a falar em botar o pé. Edenilson simplificou pelo apagão. D'Alessandro deu um carrinho inútil e levou amarelo em seu primeiro lance no jogo. Rafael Sobis andava mais notável por entrevistas mal-humoradas do que por desempenho.
O Inter tem toda condição, mesmo com um treinador novo que se atrase até conhecer jogador por jogador e demore a engrenar uma nova ideia de futebol, de estar na Libertadores 2020 com vaga direta. Está a pouca distância dos rivais à frente e viu chegar um rival especial que é melhor time do que o Inter. Talvez, na pior das hipóteses para os colorados, o Inter tenha que disputar vaga direta na Libertadores com o Grêmio.
A direção colorada decidiu fazer a cirurgia. Preocupantemente, o presidente chegou a dizer que nem tinha pensado se o próximo técnico ficaria até dezembro deste ano ou seria contratado até o fim do ano que vem. Disse que nem tinha conversado com nenhum profissional quase 24 horas depois de sinalizada a demissão de Odair. Fosse eu torcedor colorado, ficaria muito inseguro. Quem chega terá força e competência para dar rumo à nau que foi à deriva?
Não vai ser em 2019 que Marcelo Medeiros coroará suas boas gestões com taça no armário, mas se agir com sensatez o presidente poderá preparar a próxima temporada com mais sabedoria para colocar alguma faixa no peito. É urgente que debruce um olhar mais atento à base. Vai precisar ir cirurgicamente ao mercado para reforçar a qualidade geral do grupo. Há jogadores contratados neste ano que não têm a menor condição técnica de jogar no Inter. Não vou citar os nomes porque não pratico crueldade. Basta ver.
Tanto quanto ações pontuais, a mim parece evidente que o Inter precisa revisar seu conceito analógico de futebol. Odair Hellmann colocava o time atrás sem nenhuma oposição dos dirigentes. Este era o pensamento vigente. Como você já leu aqui, dá para ser campeão jogando no analógico, mas não será a lógica com o perdão do trocadilho. O futebol contemporâneo exige coragem como um dos seus componentes essenciais. Em maior ou menor dose, mas coragem para jogar fora de casa sem parecer um clube menor. Em 2019, o Inter foi médico e monstro em seu comportamento tão discrepante a partir da geografia. Se em casa, um gigante. Se longe do Beira-Rio, uma réplica de Mogi Mirim.
Para este 2019 que termina em dois meses, vaga vai ser título para o Inter. A partir da confirmação do possível, Marcelo Medeiros, Roberto Melo e o comandante escolhido para levar a barca na casamata vão precisar de mais repertório. A Série B está distante da memória, embora ainda deva machucar e talvez para sempre machuque colorados e coloradas. Não cabe mais a síndrome de coitadismo que relativiza tudo só porque menos de dois anos atrás o Inter jogava contra o Luverdense. Olhar para a frente é preciso. E com olhos de gigante.