O crescimento da desaprovação do governo Lula mostrado pela pesquisa Quaest capturou o imediato prejuízo eleitoral das declarações que o presidente fez sobre a guerra entre Israel e o Hamas, especialmente pela descabida e infeliz comparação com o Holocausto. É um alerta de que Lula deve olhar para os problemas internos antes de buscar exercer um papel de liderança internacional que não lhe cabe.
Mais do que mostrar que as palavras têm poder, a pesquisa leva um alerta ao governo de que a tolerância da população com os resultados que espera de seu terceito mandato é pequena. E agora a percepção geral sobre o governo chegou pela primeira vez a um empate técnico entre positivo e negativo.
É preciso considerar que o petista foi escolhido por muitos eleitores no último pleito em função do alto nível de rejeição de Jair Bolsonaro. Isso não significa que ele seria o preferido se o candidato fosse outro. Por isso, o nível de tolerância é menor.
Os números da economia fecharam 2023 melhor do que as projeções, com desemprego em queda, inflação controlada e juros menores. Isso não foi suficiente para manter o patamar de aprovação que o governo possuía na arrancada do mandato. Por isso, mais do que trabalhar para o crescimento da economia, Lula deve olhar para as preocupações reais de quem vive no país, em áreas como segurança pública e saúde.
A desaprovação recorde entre os eleitores que se declaram evangélicos, que agora atingiu 62%, certamente tem relação com as declarações sobre Israel, mas está ligada também com a dificuldade do governo em ser aceito por quem se alinhou ao bolsonarismo, na esteira da influência de parlamentares e pastores radicais. Lula nunca terá maioria junto a este público, mas mostrou que a situação pode piorar quando também resolve misturar política e religião.