A vitória de Javier Milei nas eleições primárias da Argentina não deveria ser surpresa. Além da severa crise social e econômica que abala o país vizinho, o sucesso do "Bolsonaro argentino", como foi apelidado o candidato de extrema direita, tem outros motivos.
O contexto guarda semelhanças com o Brasil e outros países da América do Sul e nos deixa alguns recados.
O mundo, como sabemos, está mais acelerado do que nunca. E a política não fica isolada neste ambiente de pressa e ansiedade. Soma-se a isso o descontentamento com a política tradicional e o baixo nível do debate — reduzido cada vez mais a fake news, discursos de ódio e populismo.
Assim como Bolsonaro, Milei promete resolver problemas estruturais e complexos com medidas rápidas e simples. No Brasil, a maioria da população entendeu que a fórmula não deu certo — caso contrário, ele teria sido reeleito.
Mas o placar apertado das urnas e a composição do Congresso brasileiro — com maioria conservadora e de direita — também mostram que Lula precisará entregar resultados rápidos, especialmente na chamada economia real — ou seja, no preço dos alimentos, dos serviços e do poder de compra da classe média e da população de baixa renda. Sem isso, dificilmente gozará da bonança de popularidade de 20 anos atrás.
Na Argentina, o esquerdista Alberto Fernández venceu o então presidente Maurício Macri em 2019 prometendo devolver o poder de compra aos argentinos, resolver a recessão enfrentada à época e equilibrar o endividamento com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Fez o contrário.
Entregará um país com hiperinflação e dificuldades econômicas ainda mais severas. Decidiu achar um substituto para representar o governo nas urnas pela certeza de que não seria reeleito.
Assim como no Brasil, quem sair vitorioso das eleições argentinas, marcadas para 22 de outubro, terá pouco tempo para aplicar suas teses. À esquerda ou à direita, a população quer sentir a vida melhorar. E tem pressa.