O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não fez oposição ao texto da reforma tributária por considerá-lo ruim. Ele sequer sabe detalhes da proposta, que até o ano passado era discutida no Congresso com apoio do seu governo. A irritação tem dois motivos: o protagonismo do governador de São Paulo, Tarcísio Freitas (Republicanos), na articulação, e o impacto positivo na economia que a reforma poderá gerar ao governo Lula.
O empenho para boicotar projetos importantes para reestruturar o país não é exclusividade de Bolsonaro. Enquanto esteve na oposição, o PT teve comportamento parecido em outras ocasiões. O partido orientou seus parlamentares a votarem contra a Constituição de 1988, por exemplo.
Em 1994, a bancada do PT e o então deputado Jair Bolsonaro se uniram contra o Plano Real, que implementou a moeda vigente no Brasil e controlou a inflação. Na época, havia desconfiança sobre a intenção eleitoreira da proposta, visto que o então presidente Itamar Franco queria eleger Fernando Henrique Cardoso como seu sucessor.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) aprovada pela Câmara dos Deputados nesta semana está longe da perfeição, e boa parte da reforma ainda depende de regulamentação — passo importante para definir alíquotas de imposto, benefícios pontuais a setores da economia e outros detalhes. A oposição do ex-presidente e da maioria de seu partido à proposta, contudo, levou em conta apenas o fator político: se posicionar contra qualquer mudança que possa fazer o governo dar certo.
Uma das lideranças mais empenhadas na aprovação do texto, o governador de São Paulo passou três dias em Brasília em reuniões com parlamentares e outras autoridades. Tentou convencer integrantes do PL de que a reforma tributária foi uma das principais pautas da direita nos últimos anos. Foi vaiado e repreendido publicamente por Bolsonaro.
No plenário da Câmara, porém, o reconhecimento foi imediato. No discurso que antecedeu a abertura do placar que mostraria a aprovação, o relator da reforma, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), exaltou o papel de Tarcísio. Ele foi uma das autoridades mais aplaudidas pelos deputados.
Mais do que se opor à postura de quem só se elegeu governador por contar com seu apoio, Bolsonaro ficou revoltado ao ver a proeminência política do governador. Inelegível, o ex-presidente espera ainda ser protagonista na oposição e nas eleições de 2026. Mas a sombra do ex-ministro deixa cada vez mais nebuloso o futuro desta liderança.