Adversários nas urnas em 2022, o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas (Republicanos), e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), deram nesta quarta-feira (5) mais do que uma demonstração de civilidade. Evidenciaram que o Brasil pode achar uma brecha na disputa político-ideológica para avançar em temas que beneficiam o país — como é o caso da reforma tributária. O que deveria ser óbvio, virou uma bela exceção, tendo em vista o histórico recente da política brasileira.
Os dois se encontraram na sede do Ministério da Fazenda e mostraram disposição em vencer divergências que travam o texto da reforma. Diferentemente de seus antecessores no governo de São Paulo, Tarcísio demonstrou grandeza em defender publicamente um texto que pode significar menos arrecadação ao seu Estado no curto prazo.
O ex-ministro de Jair Bolsonaro disse levar em conta as projeções do impacto positivo que a reforma terá na economia, potencializando o crescimento não somente em São Paulo, mas também em outros Estados. Ao contrário do ex-chefe, que à frente da Presidência deixou de discutir projetos estruturantes para brigar com a maioria dos governadores e romper relações institucionais, Tarcísio mantém diálogo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e tem construído pontes em discussões que interessam ao seu Estado.
Do outro lado da mesa, Haddad também se notabilizou desde o início do ano pela capacidade em construir entendimentos além da base — onde muitas vezes enfrenta resistência de algumas alas do PT —, indo ao encontro de opositores e integrantes do centrão.
Mais do que ter acalmado os temores do mercado sobre uma política fiscal irresponsável no governo petista, o ministro acumulou no primeiro semestre vários elogios pela condução de temas sensíveis, seja na construção do novo arcabouço fiscal, em medidas para mitigar a baixa oferta de crédito e na própria reforma tributária.
Ainda estão pendentes projetos importantes na área econômica, como o Desenrola — o projeto de renegociação de dívidas de pessoas de baixa renda foi lançado com atraso e ainda não está claro se será bem-sucedido. O saldo de Haddad na comparação com o trabalho de outros colegas na Esplanada, contudo, está no azul.
A mais de três anos das eleições, o que se espera de quem foi eleito pelas urnas é buscar soluções conjuntas para problemas crônicos do país, o que passa por uma mudança radical no Frankenstein que virou o sistema tributário. Ainda é cedo para dizer se o Congresso conseguirá vencer as divergências em torno de um tema tão complexo. A retomada do compromisso institucional no país, porém, já deve ser comemorada.