Recebido com as honras habituais de um chefe de Estado em Brasília, nesta segunda-feira (29), o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, terá a atenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em grande parte do dia. Mas o ambiente que o venezuelano encontrará na terça (30), durante reunião dos líderes de países da América do Sul, não será totalmente amigável. E as circunstâncias para unir politicamente a região estão bem longe do cenário desenhado nos primeiros governos de Lula.
A falta de transparência sobre as eleições venezuelanas e os ataques a Direitos Humanos e à liberdade de expressão no país causam incômodo até mesmo entre líderes de esquerda, como é o caso de Gabriel Boric, presidente do Chile. Com isso, a presença do chavista no encontro de representantes dos 12 países da região, na capital federal, poderá ser um ponto de desgaste.
Há discursos mais incisivos entre os líderes do Paraguai, Mario Abdo Benítez, e do Uruguai, Lacalle Pou, que, além de divergências ideológicas com esquerdistas radicais, têm ressalvas sobre a efetividade de organismos como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), criada em 2008 como uma maneira de unir os países da região. Com forte conexão junto à esquerda, o grupo foi deixado para trás nos últimos anos, mas agora pode ser retomado.
A chance de os países da região se unirem, contudo, esbarra em outros problemas. Além do enfraquecimento cada vez maior do regime chavista na Venezuela, é raro encontrar um líder sul-americano que não enfrente crises internas graves. Ou seja, que não tenha problemas mais urgentes a tratar.
Na Argentina, Alberto Fernández luta contra a impopularidade e a hiperinflação. No Equador, Guillermo Lasso tenta escapar de um impeachment. O Peru destituiu seu presidente e hoje é comandado pela vice, Dina Boluarte. Há dificuldades importantes também nos governos de Boric e de Gustavo Petro, na Colômbia.
Sem contar que Lula, em seu terceiro mandato, ainda não demonstrou que será capaz de fazer o país voltar a crescer, engatinha nas relações com o Congresso e não tem a popularidade conquistada em outros governos.
Reunir os líderes sul-americanos em Brasília faz parte da estratégia do mandatário brasileiro em reforçar o papel de liderança na região, fortalecer o diálogo e o entendimento. Será difícil, porém, reunir atenção e capital. Além de tudo, a decisão de estender o tapete vermelho a Maduro poderá trazer mais prejuízos do que lucro.