Poucas vezes a eleição americana teve resultado tão difícil de projetar quanto a disputa entre o republicano Donald Trump e a democrata Kamala Harris neste 2024. Nunca, porém, houve tanto em jogo.
Os dois candidatos têm uma característica em comum que é quase consensual - ambos têm planos econômicos que projetam aumento do déficit dos Estados Unidos, capaz de desequilibrar as finanças globais -, uma diferença é crucial.
E embora Kamala Harris possa não ser exatamente uma ambientalista - mais de uma vez, já se enrolou para explicar porque já foi contra o fracking (técnica usada para obter petróleo de xisto, que permitiu aos EUA se tornar o maior produtor mundial) mas deixou de ser -, Trump já avisou que vai, de novo, abandonar o Acordo de Paris, como já fez antes.
Em 2017, quando Trump saiu pela primeira vez do Acordo de Paris, os debates ambientais sobre a urgência de assegurar que a temperatura do planeta não subisse mais do que 1,5ºC já estavam quentes, mas não haviam atingido o ponto de fervura dos últimos dois anos.
Se há algo que ficou claro, depois do dilúvio no Rio Grande do Sul de maio e do desastre ambiental da região de Valência, na Espanha, é de que os efeitos da mudança do clima se anteciparam junto com o aumento da temperatura da Terra.
Conforme o climatologista Carlos Nobre, dados de junho de 2023 e maio de 2024 mostram que a temperatura do planeta já aumentou 1,65ºC. Otimista, ele avalia que ainda é possível alcançar a meta de limitar essa elevação a 1,5ºC. Mas qual é o instrumento que o planeta tem para perseguir esse objetivo? O Acordo de Paris.
Trump passou boa parte da campanha evitando o assunto, mas o site especializado Politico (veja aqui) confirmou a informação de que seu plano é, de fato, voltar a abandonar os compromissos de redução dos gases de efeito estufa (GEE). Essa ferramenta é essencial para evitar que desastres como o do RS ou da região de Valência se agravem - já não dá mais tempo para impedir que ocorram.
Na região da Grande Valência, a conta de mortes já está em 217, mas ainda há temor de alta significativa, dado o número de desaparecidos. No RS, o dilúvio levou menos vidas, mas arrancou meios de subsistência. Se com os EUA no Acordo de Paris já seria difícil, a hipótese de retirada do país dos compromissos planetários vira um pesadelo.