A tradicional abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) já teve um presidente brasileiro falando enquanto o país ardia em chamas, em 2020. Nesta terça-feira (24), o cenário se repete, mas mudaram as palavras.
Desta vez, as queimadas não foram atribuídas a "índios e caboclos" nem a uma conspiração internacional contra o Brasil. O problema é que discurso correto não basta: saliva não apaga incêndios.
Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer reformar a governança das instituições multilaterais, como a própria ONU, precisa antes mostrar que é capaz de gerir os problemas do Brasil.
Outra vez, o Brasil chega à abertura da assembleia geral com imagem chamuscada, desta vez pela falta de efetividade no controle da devastação. O volume de queimadas fez com que as emissões de carbono do país superem a média registrada de quase 20 anos, segundo dados do Copernicus, programa de monitoramento de mudanças climáticas da União Europeia (UE).
Lula voltou a afirmar que vai "erradicar" o desmatamento até 2030, mas é difícil projetar o alcance dessa meta sem um plano estruturado. Também afirmou que não terceiriza responsabilidades. É um avanço, sem dúvida. Mas falta dar consequência ao discurso.
A falta de controle era compreensível nos primeiros dias, porque havia surpresa com uma das maiores secas da história. Mas se passaram quase dois meses de queimadas intermitentes que, além de agravar a mudança do clima pelo acúmulo de emissões, ainda prejudicam a saúde das pessoas com fumaça que chegou ao RS e até a países da África.
Mais do que dar lições de moral à ONU — que de fato precisa — o presidente precisa assumir a liderança do combate às queimadas em seu próprio país, neste momento à autoproclamada autoridade climática que já age no país, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino.