A decisão que o Comitê de Política Monetária (Copom) terá de tomar na quarta-feira (18) é difícil de vários pontos de vista, do econômico ao político, passando pelo desafio da reancoragem das expectativas.
O "consenso do mercado" prevê alta de 0,25 ponto percentual, mas nos últimos dias cresceram as apostas de uma dosagem maior, de 0,5 p.p. - até de quem é contrário ao movimento.
Mais complexo ainda será elaborar o texto do comunicado, que terá de explicar por que o Banco Central (BC) vai elevar o juro no mesmo dia em que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) começará a cortar o seu.
Nesta segunda-feira (16), o Relatório Focus do BC mostrou que a maioria dos economistas aumentou as projeções para este ano do PIB - de 2,68% para 2,96% -, mas também da inflação - de 4,30% para 4,35%, a despeito da deflação de agosto.
Segue lá, ainda, a previsão que o juro básico suba 0,75 ponto percentual até o final do ano. É a maioria mais sólida, com 148 "votos" - é bom lembrar que as projeções do Focus refletem a chamada "mediana" (mais frequente, ou seja, apontada pela maior parte dos consultados).
Em teleconferência com jornalistas na semana passada, o economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, que já foi diretor de Política Monetária do BC, avaliou que uma dose de 0,5 p.p. seria mais indicada:
— Se eu estivesse lá, optaria por uma alta mais rápida e mais curta, (...) daria um passo maior.
A coluna quis saber o que Mesquita sugeriria escrever no comunicado, e ele pediu um tempo para responder. Depois, reiterou o peso do câmbio na decisão:
— Se tivesse subido até R$ 5,50, o BC poderia não mexer na Selic. Com a alta acima disso, a vida do BC fica mais difícil, perde grau de liberdade.
Até um crítico da alta de juro orientada para o mercado, o economista André Perfeito, já afirmou que, se for inevitável, que a elevação seja rápida, e também defendeu alta de 0,5 p.p. já na quarta-feira.
E nesta segunda-feira, o time do 0,5 p.p. foi reforçado pelo economista-chefe do Banco Pine, Cristiano de Oliveira. Com um agravante: ele vê o BC fazendo três altas consecutivas de 50 bps cada, para levar a taxa básica para 12% no final do ano, bem acima do "consenso do mercado".
Vai ser a reunião da "âncora flutuante", expressão absurda que tenta simbolizar o paradoxo atual na economia.