Na quinta-feira (1°), um dia após a disparada da cotação do petróleo, o dólar teve forte alta de 1,43%, para R$ 5,735, motivada pelo aprofundamento do cenário global de aversão ao risco. Na ocasião, a moeda norte-americana rompeu a barreira fixada pelo maior nível desde 21 de dezembro de 2021, quando fechou em R$ 5,738. Voltou a avançar 0,56% nesta segunda-feira (5), cotada a R$ 5,741.
Agora, somam-se novos elementos ao raly especulativo. O principal foi a notícia do início desta manhã, indicando uma suposta crise na Ásia, cujo epicentro seria o Japão, onde o índice Nikkei fechou em queda de 12%. Ao longo do dia, a moeda norte-americana chegou a romper a cotação de R$ 5,86, a mais alta desde outubro de 2020.
Na B3, assim como na maioria dos mercados globais, as pressões sobre o dólar se intensificaram na sexta-feira, quando os dados do emprego nos Estados Unidos apontaram para o aumento da taxa de desemprego e redução da renda do trabalho e aprofundaram o temor com uma eventual recessão no país, que este ano irá às urnas pra escolher seu novo presidente.
Por outro lado, analistas apontam questões da agenda doméstica com peso e influência sobre o câmbio. Valter Bianchi Filho, sócio-diretor da Fundamenta Investimentos lista entre esses fatores o que chama de “incapacidade do governo” em demonstrar compromisso firme com o equilíbrio fiscal.
Segundo ele, isso soma-se ao fato de que a expectativa de inflação está em processo de afastamento da âncora, o que aumenta a percepção de risco no Brasil e acelera a desvalorização do real.
Outro aspecto contabilizado por Bianchi é a “reticência do governo brasileiro em se posicionar de forma mais contundente sobre as suspeitas nas eleições venezuelanas”. De acordo com o analista, isso coloca o Brasil em posição de “degradação institucional”.
O resultado: os investidores estrangeiros, que apreciam países com respeito às leis e regras, afastam-se dos locais em que considerados destinos perigosos para investidores, caso da Rússia e da China.
Pressão externa
A queda de commodities, que são representativas na pauta de exportações do Brasil, sobretudo a soja e o minério, atrapalha o fluxo de dólares para o país. Apesar de o resultado das contas externas (exportações - importações + fluxo de investimento para cá) estar positivo, a retração recente da cotação dessas destas commodities impacta as expectativas sobre eventual deterioração dessas contas.
Com a escalada do risco recente de intensificação dos conflitos no Oriente Médio, os chamados mercados emergentes, dentre os quais está o Brasil, tendem a sofrer impactos extra na desvalorização das moedas nacionais – nesse caso o real ante o dólar.