O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Aos poucos, com a divulgação de pesquisas e indicadores referentes aos meses de junho e julho, é possível vislumbrar a ponta do iceberg em que a economia do Rio Grande do Sul se transformou após a enchente de maio.
Alguns dados chegam dentro do esperado, outros com supressas positivas. Após a suspensão de pagamentos e cobranças por 60 dias no Estado, era de se esperar que a inadimplência das empresas gaúchas aumentasse no mês passado, em razão do fim da medida. Mas não é o que mostram os números da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL-Poa), com base em dados da Equifax/Boa Vista.
De acordo com o indicador, a inadimplência das pessoas jurídicas (PJs) caiu 0,11% em julho, na comparação com o mês anterior. O economista-chefe da entidade, Oscar Frank, explica que se trata do menor percentual desde agosto do ano passado.
Segundo ele, além do impacto da suspensão dos registros entre maio e junho e das medidas de apoio aos estabelecimentos, a tendência de recuo recente está ligada aos efeitos acumulados e defasados do ciclo de redução da Taxa Selic, iniciado em agosto do ano passado, cujos efeitos demoram a aparecer na economia.
No entanto, o tom mais duro adotado a respeito do cenário econômico observado pelo Comitê de Política Monetária (Copom), aponta Frank, abre caminho para que existam novas elevações em caso de deterioração do panorama fiscal e externo.
As três questões, complementa, são fundamentais para determinar ou não a continuidade do movimento. No mês passado, o índice caiu de 14,22% para 14,11%. Na Capital, também houve diminuição, de 15,33% para 15,20%.
É estimado que o Rio Grande do Sul chegue a 204.097 negócios com negativação. Já Porto Alegre, 35.416.
Cenário futuro
Para Oscar Frank, uma questão crucial para a continuidade do desempenho, sobretudo no comércio, é a intensificação de medidas voltadas à manutenção do emprego. Após o fechamento de 22 mil vagas, em maio, e 8,5 mil, em junho, o enfoque das medidas emergenciais deve seguir focado nesse aspecto.
Em segundo lugar, mas não menos importante, argumenta, é destravar o fluxo de crédito. Nesse contexto, ele diz que seria essencial priorizar recursos nas empresas mais afetadas, e não nas que já possuem melhores históricos de relacionamento com os bancos.