Um gaúcho vai comandar, na Universidade de Campinas (Unicamp), estudo de 10 anos que acompanhará a reação do Rio Grande do Sul ao choque climático de maio e junho de 2024.
— Não existe literatura de casos sobre resiliência de empreendedorismo a choques , só teórica. O caso do Rio Grande do Sul entra perfeitamente nessa perspectiva. Será importante ver a criação de iniciativas nesse sentido — afirma Bruno Brandão Fischer.
Formado em Administração de Empresas na Unisinos, Bruno é doutor em Economia e Gestão da Inovação e professor na Unicamp. Há um ano, desenvolve a pesquisa com apoio de Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) e Universidade de São Paulo (USP).
Conforme o pesquisador, o tema dos desastres climáticos e da recuperação é fundamental no estudo que também se relaciona com a transição sustentável:
— É muito difícil antever a trajetória a partir de choque climático extremo. É condicionada por uma série de efeitos que podem ou não ocorrer, dependendo das iniciativas adotadas. Pode até fortalecer, mas é um grande desafio.
Bruno pondera que as tendências socioeconômicas do Estado vinham se deteriorando nas últimas três décadas, com perda de capital humano.
— O saldo migratório negativo é um dos maiores do país. Não vamos ter uma noção clara dos danos do desastre até o ano que vem, como o número de empresas que fecharam, quantos empregos serão suprimidos — adverte.
Para reduzir os efeitos negativos, afirma, é preciso não perder o foco nas iniciativas que vinham sendo tomadas na diversificação da economia do Estado, que já tem uma produção que caracteriza como "de baixa complexidade". Avalia que o poder público está fazendo "o possível, dentro do que é possível", mas vê necessidade de engajamento de outros atores para garantir que não vão escassear recursos para o desenvolvimento da inovação.
— Esse sistema não deve funcionar com base só no governo, precisa envolver outras instituições e empresas. Os governos coordenam, com recursos limitados, mas não pode deixar de ser prioridade. O foco na reconstrução física faz sentido no curto prazo, mas não se pode perder de vista uma iniciativa com potencial tão grande. A inovação estava começando se desenvolver no Estado, não pode retroceder.
Bruno lembra que o grande problema, tanto do país quanto do Estado, é a baixa capacidade de agregação de valor, daí a importância de desenvolver um robusto ecossistema inovador.
— Não se trata de ter um unicórnio (startup que alcança valor de mercado de US$ 1 bilhão) em Porto Alegre, a preocupação é com a transferência de renda e riqueza à população. Essa situação vinha se deteriorando e, com o desastre, há risco de que se acentue, que empresas saiam, pessoas saiam. É importante ter coesão social, ter o empreendedor social que vai lá e busca resolver os problemas de sua região.
O pesquisador diz que vê surgir uma "boa narrativa" sobre a reconstrução do Estado, mas reforça que precisa ser baseada em fatos, não só em discurso. Se não espelhar a realidade, alerta, não se sustenta. Caso se concretize, será uma enorme oportunidade, diz:
— Os problemas que estão acometendo várias regiões, como o RS, têm natureza internacional. Por que uma solução que surja no Estado não pode ser aplicada na Alemanha?