A inteligência artificial preocupa, sob certos aspectos, mas também pode ser usada para o bem. Com mais agilidade e menos exposição a riscos, máquinas já podem salvar vidas em catástrofes climáticas, afirma Euclides Chuma, integrante sênior do IEEE (da sigla em inglês Institute of Electrical and Electronics Engineers, ou Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos), dedicado ao avanço tecnológico. De carros voadores ao ChatGPT, passando por 6G e drones, diversas tecnologias têm habilidades que ajudam a enfrentar e prevenir eventos extremos.
Como a inteligência artificial pode ajudar prevenir e enfrentar desastres?
Já existem drones que ajudam a identificar pessoas em situação de emergência e objetos, como entulhos espalhados por catástrofes. Nesse caso, evitam que voluntários, bombeiros e policiais se coloquem em risco ou fiquem exaustos. Drones são muito úteis para enxergar pessoas em telhados. A inteligência artificial também pode ser usada para melhorar processos, como doações. A tecnologia é capaz de mapear para onde as doações devem ir. Ainda precisamos aperfeiçoar os sistemas de previsão, com mais dados, mais sensores e detalhamento em toda a América Latina, não só no Rio Grande do Sul. Assim, seria possível mapear a mudança climática, por exemplo.
A inteligência artificial foi usada para enfrentar a enchente no Rio Grande do Sul?
Vimos sistemas que usavam tecnologia para conectar doadores com pessoas voluntárias. O ChatGPT ainda não gerou muito impacto na recuperação do Rio Grande do Sul, mas tem grande potencial para ajudar as pessoas depois da tragédia. Dá para conversar com o ChatGPT. É suporte para as pessoas que não têm com quem conversar. O ideal é um profissional de saúde, mas em uma situação de calamidade pública, qualquer tecnologia que pode melhorar a vida do ser humano é bem-vinda, até o ChatGPT.
Quais são os próximos passos da inteligência artificial?
As empresas de telecomunicações já trabalham no 6G, que usa onda de rádio, de transmissão de telefone e internet, para identificar objetos, fazer sensoriamento. Por volta de 2030, haverá sensores que digitalizam o mundo real. Junta isso com a tecnologia de carros autônomos. Embraer e Boeing já têm projetos de veículos aéreos elétricos automatizados. São helicópteros do futuro, com capacidade de transportar pessoas. Agora, imagina esses veículos com câmeras que identificam pessoas nos telhados. Não coloca a vida dos socorristas em risco, e agiliza o salvamento, com mais chances de sucesso. Meu sonho é, inclusive, que essas máquinas identifiquem a situação de saúde da pessoa, se está com hipotermia, qual o batimento cardíaco.
Qual será o custo?
Como toda tecnologia recém-desenvolvida, é cara. Não vamos nos iludir. É preciso ter orçamento para isso. A preparação para calamidades exige tecnologia. Não é possível o que está acontecendo com a ciência e a tecnologia no país. O investimento é alto, mas o retorno também, inclusive para a sociedade. Hoje, a tecnologia está desvirtuada do seu propósito. A tecnologia serve às pessoas, não ao capital. Não faz sentido ter desenvolvimento tecnológico só para gerar dinheiro. Hoje praticamente não existe tecnologia voltada exclusivamente para o ser humano.
*Colaborou João Pedro Cecchini