A consciência de que a reconstrução do Estado será demorada fez nascer o projeto Rio Grande do Brasil. Por iniciativa de Cassio Bobsin, CEO da Zenvia, quer engajar empresários e executivos de empresas brasileiras que têm clientes gaúchos - pessoas físicas e pequenas e médias empresas a ajudar como podem, ou seja, concedendo descontos ou incentivos. Nascida em Porto Alegre "com uma mesa e dois computadores", a Zenvia tem hoje sede em São Paulo e ações negociadas na bolsa de tecnologia de Nova York, a Nasdaq. A iniciativa reúne cinco empresas - além da Zenvia, Alura (EaD), ContaAzul (gestão para pequenas empresas), Logcomex (software para comércio exterior) e iFood. Cada uma com uma forma e um tempo de contribuição, já asseguraram ações que garantem que R$ 25 milhões vão ficar no bolso das pessoas e negócios beneficiados. Cássio diz que ficará feliz se a iniciativa alcançar R$ 100 milhões.
Como nasceu a iniciativa?
Estava fora do Estado quando ocorreu enchente, nos Estados Unidos. Foi difícil, de fora, entender a dimensão do que havia ocorrido. Quando consegui voltar, tive uma reunião no governo do Estado para tentar entender as fases do processo. Entendi o quanto o foco do poder público estava na infraestrutura e no atendimento de emergência, com grandes desafios de reconstrução. Não entendo muito de infraestrutura, mas entendo de economia e negócios. E comecei a pensar em como ajudar pequenas empresas que sofrem com queda na economia, falta de capital de giro. Pensei o que eu, no mundo digital, consigo fazer.
E como chegou a cinco empresas com perfil tão diferente?
Comecei a conversar com pessoas e empresas que estão no meu universo. Concluímos que poderíamos fazer uma injeção direta no bolso das pequenas empresas por meio de descontos. É dinheiro que sairia do bolso e deixa de sair. É uma forma de manter recursos na reconstrução no Estado. Estamos começando, é um trabalho de médio prazo, porque a reconstrução é um trabalho lento. A primeira turma tem cinco empresas.
Quanto deve significar a iniciativa, e por quanto tempo?
Conseguimos R$ 25 milhões ao longo dos próximos meses. O prazo varia conforme o jeito que cada um conseguiu contribuir, alguns por três meses, outros por seis meses. Depende do tipo de produto ou serviço que cada um oferece. É dinheiro que vai deixar de sair das empresas atingidas. Agora, vamos tentar acrescentar empresas de outros segmentos e mercados. Como a economia está muito digitalizada, é onde existe mais flexibilidade para atuar. A iniciativa está aberta à participação de todos que podem e querem contribuir para a reconstrução, com modelo flexível. Só importa que tenha benefício efetivo para o cliente gaúcho, para não ficar só no promocional. Espero que surjam outras empresas com o mesmo olhar, que o Rio Grande é do Brasil.
Qualquer incentivo para pequenas empresas ou pessoas neste momento é ótimo. Na ponta, R$ 100 mil fazem fazem diferença.
A iniciativa em uma meta, em número de empresas ou em valor de benefícios?
Estamos partindo de R$ 25 milhões e ficaria muito satisfeito em colocar R$ 100 milhões no Rio Grande do Sul. Mas é importante observar que, se alguém conseguir contribuir só com R$ 100 mil, já é importante. Não é sobre número, é sobre o movimento. Qualquer incentivo para pequenas empresas ou pessoas neste momento é ótimo. Na ponta, R$ 100 fazem diferença.
Como está a Zenvia?
Está indo muito bem. Desde que começou a fazer expansão, abrir capital, agora está conseguindo obter o melhor de todos os movimentos, que é oferecer uma solução completa para as empresas. Assim podemos vender melhor e ter uma resposta para os clientes. Assim, conseguimos ajudar, também.
Como tem sido a experiência no mercado de capitais?
O mercado se move com uma dinâmica muito macro (baseada em inflação, juro, câmbio). Por mais que existam oscilações, temos uma plano claro de longo prazo. Quando gerimos com olhar sobre o cliente, se atendemos bem, estamos bem. É uma montanha-russa. Mas é como andar de barco, é preciso ter o olhar no horizonte para não marear.