Como se esperava, a inflação medida pelo IPCA veio acima da registrada em abril. A alta de 0,46% no mês passado ficou pouco acima das expectativas (0,42%), com "efeito RS" menor do que o temido. Com esse resultado, a inflação acumulada em 12 meses chega a 3,93%.
Os alimentos, grupo que concentrava o temor de espalhamento da "inflação da enchente", tiveram até menor variação - 0,62% ante 0,7% em abril. A maior, na média nacional, foi de 0,69% no grupo saúde e cuidados pessoais, que tem menor peso no índice geral.
No final de maio, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, havia afirmado que "o preço do alimento será um pouco mais alto por causa do Rio Grande do Sul". Foi criticado por incluir um fator de risco ainda não caracterizado.
Na semana passada, Campos Neto ajustou o tom ao dizer que a equipe do BC ainda tentava entender melhor os impactos econômicos das enchentes no Rio Grande do Sul:
— A gente estima que tenha algum impacto na inflação, mas confesso que a gente precisa de um pouco mais de tempo para entender como vai ser ao longo do ano e olhando mais para o médio prazo.
A alta muito intensa foi restrita à inflação de Porto Alegre, que subiu 0,87% no mês, ante 0,64% em abril. Mesmo assim, o acumulado em 12 meses na capital gaúcha ficou abaixo da média nacional, em 3,83%, porque vinha subindo menos nos meses anteriores.
De qualquer forma, o IPCA deve ter o efeito já previsto no mercado: vai contribuir para uma provável manutenção do juro básico na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC da próxima semana, como reforça o economista André Perfeito:
— A primeira leitura dos dados reforça a perspectiva mais dura do BC e deve aumentar as apostas para apenas mais um corte da Selic no ano.
Atualização 1: somado ao cenário de aumento de incerteza nacional e global, o resultado da inflação de maio já faz com que economistas não projetem mais nem um corte sequer da taxa básica. É o caso de Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, que afirma:
— Para a próxima reunião, passamos a estimar a manutenção da taxa Selic em 10,5% ao ano, e deve permanecer nesse patamar até o final de 2024.
Atualização 2: em texto que vê na inflação de maio "dados que incomodam além do efeito RS", a XP Investimentos avalia que os dados do IPCA sustentam a "visão de que o Copom manterá a taxa Selic em 10,50% na próxima semana". A empresa diz que sua projeção de 3,7% para o IPCA de 2024 "tende a ser revisada para cima, dada a situação do Estado do RS, pressões cambiais, mercado de trabalho mais apertado do que o esperado e recentes aumentos de impostos.