O que estava esboçado virou número oficial: no boletim Focus publicado pelo Banco Central (BC) nesta segunda-feira (21), a maioria entre a centena de economistas consultados já não vê chance de o juro básico encerrar o ano em um dígito.
A previsão mediana (mais frequente, portanto "maioria") é de que a Selic chegue ao final de dezembro em 10%. Até a semana anterior, estava em um dígito, embora por pouco: 9,75%.
Detalhe importante: o BC apresenta a pesquisa às segundas-feiras, mas conclui a coleta na sexta anterior. Isso quer dizer que na semana passada ainda não estava contabilizado o efeito da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), que além de avisar que a tragédia no RS teria impacto econômico nacional, foi considerada duríssima.
Isso significa que o "consenso do mercado" - avaliado pela maioria das apostas no Focus - é de que o juro básico só será cortado em mais 0,5 ponto percentual. Se fosse possível, seria o equivalente a uma poda de 0,1 p.p. em cada reunião do Copom até dezembro, porque ainda já cinco: 18 e 19 de junho, 30 e 31 de julho, 17 e 18 de setembro, 5 e 6 de novembro e 10 e 11 de dezembro.
Claro, não é assim que funciona. O corte mínimo no juro é de 0,25 ponto percentual (um quarto de ponto) em cada encontro da diretoria do BC. Por isso, o mais provável é que ocorram dois nas duas próximas reuniões, seguidos de mais uma longa fase de manutenção. Mas dado o alto nível de incerteza - ainda é preciso esperar para saber se a reação à morte do presidente do Irã não trará desdobramentos -, não se descarta sequer uma parada na próxima reunião para avaliar o cenário.
O economista André Perfeito, que sustentava desde o início do ano que o juro não cairia ao patamar projetado pelo Copom - 9% na época - ainda acredita que seja possível chegar a dezembro com um só dígito, em 9,75%. Pondera que, se o Brasil parar de cortar a taxa básica antes do início da redução nos EUA, isso tenderia a se traduzir na queda dos juros futuros por aqui, por contraditório que possa parecer.
Ressalta, ainda, que houve novas revisões para cima da balança comercial (saldo entre exportações e importações, de US$ 80 bilhões para US$ 82 bilhões) e do investimento externo direto (aportes estrangeiros na produção, não no mercado financeiro, de US$ 69,5 bilhões para US$ 70 bilhões), que tendem a valorizar o real frente ao dólar. Por isso, mantém a projeção de câmbio a R$ 4,70 no final do ano.