O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, e seu ministro das Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian, morreram em um acidente de helicóptero no nordeste do país, anunciou o governo nesta segunda-feira (20). A aeronave desapareceu na tarde de domingo, quando sobrevoava uma região montanhosa do país em momento de chuva e neblina intensa.
O falecimento de Raisi, 63 anos, abre um período de incerteza política no Irã, um país muito influente no Oriente Médio, no momento em que a região é abalada pela guerra na Faixa de Gaza entre Israel e Hamas, grupo aliado do Irã.
"O presidente do povo iraniano, trabalhador e incansável (...) sacrificou sua vida pela nação", anunciou o governo, que garantiu que a situação não causará "a menor perturbação na administração" do país. O governo do Irã organizou, ainda, uma reunião de emergência presidida pelo primeiro vice-presidente, Mohammad Mokhber, que assume as funções de presidente até a realização de eleições num período de cerca de 50 dias.
"O grande espírito do presidente popular e revolucionário do Irã uniu-se ao reino supremo", afirmou a agência oficial Irna. Agências de notícias e sites de informação anunciaram a morte de Raisi horas após a localização dos destroços do helicóptero. "O presidente da República Islâmica do Irã, o aiatolá Ebrahim Raisi, sofreu um acidente enquanto servia e cumpria o seu dever para com o povo do Irã e foi martirizado", relatou a agência de notícias Mehr, concordando com publicações de outros meios de comunicação locais.
Anteriormente, a TV estatal havia anunciado a descoberta de restos do helicóptero na manhã desta segunda-feira (no horário local) por equipes de resgate. A TV estatal afirmou, na ocasião, que não havia sinais de vida no local. "Neste momento, não há nenhum sinal que mostre que os passageiros do helicóptero estejam vivos", relatou a emissora. As equipes de resgate recuperaram, nesta segunda, também os corpos de Raisi e dos outros oito passageiros, conforme anunciou o Crescente Vermelho.
— Estamos transferindo os corpos dos mártires para Tabriz (uma grande cidade no noroeste do Irã) — disse o chefe do Crescente Vermelho, Pir Hossein Kolivand, à televisão estatal, anunciando o fim das operações de busca.
A nível internacional, a agência de notícia Reuters foi uma das primeiras a confirmar a morte de Raisi, atribuindo a informação a uma fonte não identificada do governo iraniano.
Operação de resgate
Cerca de 15 horas após o desaparecimento em uma zona florestal no noroeste do país, as equipes de resgate encontraram os restos do helicóptero na encosta de uma montanha onde ele caiu, segundo uma imagem publicada pelos meios de comunicação locais.
— O helicóptero foi encontrado. Estamos agora avançando em direção ao helicóptero —anunciou o chefe do Crescente Vermelho no país, por volta das 6h (23h30min no fuso horário de Brasília) — A situação não é boa.
As operações de resgate estavam ocorrendo em "condições difíceis" em uma área montanhosa com chuva e neblina espessa, conforme havia relatado Koolivand anteriormente.
A perspectiva de encontrar vivo o presidente de 63 anos, eleito em 2021, e os outros passageiros, incluindo o ministro de Relações Exteriores vinha diminuindo desde o desaparecimento do helicóptero no início da tarde de domingo.
— Esperemos que Deus devolva o presidente e os seus companheiros aos braços da nação — declarou o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei.
Entre os passageiros do helicóptero, também estavam o governador da província do Azerbaijão Oriental, o principal imã da região, o chefe de segurança do presidente e três integrantes da tripulação.
Repercussão internacional
— Estamos acompanhando de perto as informações — disse um porta-voz da diplomacia dos Estados Unidos.
O Ministério das Relações Exteriores da China, por meio da mídia estatal CCTV, declarou-se "profundamente preocupado" com o acontecimento.
Vários países do Golfo (Arábia Saudita, Catar, Emirados Árabes Unidos e Kuwait) ofereceram ajuda nas buscas, assim como a Síria e o Iraque. Turquia e Rússia enviaram equipes para ajudar nas áreas de resgate e a União Europeia ativou "o seu serviço de mapeamento de resposta rápida CopernicusEMS" para facilitar a busca. O porta-voz da diplomacia iraniana, Nasser Kanani, expressou gratidão aos "governos e organizações internacionais por sua empatia e oferta de ajuda".
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, foi um dos primeiros a prestar solidariedade. Em uma publicação na rede social X (confira abaixo), escreveu estar "profundamente entristecido e chocado com o trágico falecimento do Dr. Seyed Ebrahim Raisi". E completou: "A sua contribuição para o fortalecimento da relação bilateral Índia-Irã será sempre lembrada. Minhas mais sinceras condolências à sua família e ao povo do Irã. A Índia está ao lado do Irã neste momento de tristeza".
Na Rússia, o chanceler Serguei Lavrov mencionou Raisi e o falecido ministro das Relações Exteriores como "verdadeiros amigos". O presidente da Síria, Bashar al Asad, expressou "solidariedade" a Teerã, que apoia seu governo na guerra civil síria.
A televisão estatal mostrou imagens de fiéis rezando pela saúde do presidente em diversas mesquitas, inclusive na cidade sagrada de Mashhad, no nordeste do país, cidade natal de Raisi.
Quem era Ebrahim Raisi
O presidente do Irã viajou no domingo à província do Azerbaijão Oriental para inaugurar, juntamente com o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, uma barragem na fronteira entre os dois países.
Na conferência de imprensa, Raisi expressou novamente o seu apoio ao Hamas contra Israel.
— Acreditamos que a Palestina é a primeira questão do mundo muçulmano — declarou.
Em uma mensagem de condolências, o movimento islamista palestino agradeceu o "apoio à resistência palestina". O Hezbollah libanês pró-Irã também prestou homenagem a Raisi, que chamou de "protetor dos movimentos de resistência".
O Irã lançou um ataque em 13 de abril contra Israel, com 350 drones e mísseis, a maioria dos quais foram interceptados com a ajuda dos Estados Unidos e de outros países aliados.
Considerado um ultraconservador, Raisi foi eleito em junho de 2021 no primeiro turno, em um pleito marcado por uma abstenção recorde nas eleições presidenciais e com ausência de grandes rivais. Ele era considerado um dos favoritos para suceder o guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, de 85 anos.
Raisi sucedeu Hasan Rohani, que o havia derrotado nas eleições presidenciais de 2017 e que, após dois mandatos consecutivos, não pôde concorrer novamente. Raisi saiu mais forte das eleições legislativas realizadas em março, as primeiras eleições organizadas após protestos que abalaram o Irã no final de 2022, após a morte de Mahsa Amini, uma jovem curda detida por não respeitar o código de vestimenta do país.
Nascido em novembro de 1960, Raisi passou a maior parte de sua carreira no sistema judicial. Antes de se tornar presidente, foi procurador-geral de Teerã e procurador-geral do país.
O falecido presidente estava na lista do governo dos Estados Unidos de autoridades iranianas objetos de sanções por "cumplicidade em graves violações dos direitos humanos", acusações rejeitadas por Teerã.
Por sua vez, Hossein Amir-Abdollahian, 60 anos, foi nomeado chefe da diplomacia iraniana por Raisi em julho de 2021.
O Irã agradeceu a oferta de vários países, entre eles Turquia, Rússia, além da União Europeia, de ajudar nas buscas do helicóptero em que Raisi viajava, um Bell 212 que era parte de um comboio de três aeronaves.