O gráfico acima mostra a projeção do Ministério do Planejamento - portanto, do próprio governo - para a trajetória da dívida pública líquida em relação ao PIB. Como a coluna já observou, piora antes de melhorar.
Diante desse cenário, aumentou a pressão para que o governo Lula admita fazer o ajuste fiscal também pelo corte de gastos. É bom lembrar que parte dos problemas vem de fora, com o provável adiamento do corte de juro nos Estados Unidos. E se o aparente alívio em relação ao temor de ampliação do conflito no Oriente Médio ajuda, a queda de braço do Executivo com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já trouxe de volta o fantasma das "pautas-bomba".
Relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre políticas fiscais em todo o mundo projeta que, no Brasil, a dívida bruta (sem descontar o que o país tem a recebe, como faz o indicador do Planejamento), chegue a 93,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2029 - as estimativas alcançam no máximo os próximos cinco anos.
Estudo da Instituição Fiscal Independente (IFI) alerta que a alteração da meta, "no mínimo, posterga a convergência para uma trajetória de estancamento do crescimento da dívida pública". Em português claro: adia a desejada redução do peso do endividamento.
O FMI apontou a importância de fazer "esforço mais ambicioso" para que o Brasil consiga começar a reduzir a dívida. A IFI prevê que, para estabilizar - não reduzir - a dívida bruta seria necessário superávit anual de 1,5% do PIB. Marcus Pestana, diretor-executivo da entidade, avalia que ainda há dúvida sobre a possibilidade de alcançar déficit zero neste ano. mesmo considerando a margem de tolerância de 0,25% do PIB.
Não, o Brasil não deve nada ao FMI, que foi "expulso" do Brasil por Paulo Guedes, ministro da Economia do governo Bolsonaro, por apontar problemas nas contas. Então, não tem nada especificamente contra Lula. Apenas segue desempenhando o mesmo papel de sempre, de apontar riscos à estabilidade. E também não, a IFI não é uma entidade dominada por rentistas que querem manter juro alto para ganhar dinheiro fácil.
O juro ainda alto pressiona a dívida, em boa parte atrelada à Selic. Novos cortes ajudariam a aliviar esse peso. Mas com incerteza externa e interna, já não se sabe quando - e se - a taxa de referência vai voltar a cair. Como alertou a IFI, a dúvida sobre o ajuste "pode influenciar a formação de expectativas de investidores e agentes econômicos relevantes em relação à política fiscal brasileira e suas múltiplas consequências".