Todo o mundo se espantou com o tamanho dos estragos provocados por mineração de sal-gema feita pela Braskem em Maceió (AL), que teve um afundamento extra em dezembro do ano passado.
Nesta terça-feira (19), a companhia apresentou os resultados de 20023: prejuízo de R$ 4,6 bilhões. Como admitiu o diretor financeiro, Pedro Freitas, boa parte foi provocada pelos custos adicionais dos problemas na capital alagoana. Mas também houve perdas causadas pelo que descreveu como o "maior ciclo de baixa da história".
Segundo Freitas, o afundamento de dezembro significou mais R$ 1 bilhão em indenizações e compensações. Com isso, a conta total subiu para R$ 15,5 bilhões. Desse valor, 10,7 bilhões já foram pagos e ainda haverá desembolsos futuros de R$ 5,2 bilhões.
Ainda conforme o executivo, toda a área de risco relacionada à mina 18, epicentro da crise mais recente, foi desocupada. Depois do episódio, a Braskem assumiu uma série de compromissos com a capital alagoana, entre os quais a compensação e requalificação dos serviços de saúde, educação e atenção das áreas afetadas, assim como a recuperação, mitigação e compensação do impacto ambiental.
Freitas afirmou que, para este ano, a companhia espera uma melhora nos preços de suas matérias-primas, mas ainda sem sair do ciclo de baixa. A fabricante de resinas usadas na produção de produtos plásticos, detalhou, segue investindo na descarbonização. O diretor financeiro citou como exemplo o desgargalamento (pequena expansão) da unidade de eteno verde do polo gaúcho de Triunfo, que substitui nafta de petróleo por etanol de cana-de-açúcar, como exemplo desse caminho.
— Vamos implementar iniciativas de preservação financeira, redução de custo e otimização de capital de giro — afirmou o executivo sobre a reação da companhia ao pesado prejuízo.
— No longo prazo, seguimos apostando na inovação, na transformação digital, ainda que com seletividade maior nos investimentos.
Segundo Freitas, a Braskem costumava atuar como fast-follower (seguidor rápido) das principais inovações da indústria petroquímica no mundo, mas com as iniciativas mais recentes nessa área, ficou "na fronteira da inovação no mundo" e "já não tem mais a quem seguir". Até onde se sabe, a companhia segue à venda, com maior interesse por parte de Petrobras - que já é sócia - e da estatal de petróleo de Abu Dhabi.
O imbróglio da Braskem
A Braskem está à venda desde 2018. A companhia é controlada pela Novonor (ex-Odebrecht), que entrou em crise depois da operação Lava-Jato. A empresa privada tem 38,3% do capital total da Braskem e 50,1% das ações ordinárias, enquanto a Petrobras tem 36,1% do e 47% das ordinárias. O primeiro ensaio de venda foi uma tentativa de evitar a recuperação judicial da então Odebrecht. Mas fracassou, por falta de transparência na avaliação dos passivos provocado por danos relacionados à mineração de sal-gema em Maceió (AL). Não por acaso, o pedido de RJ veio 15 dias depois.
Desde então, a Braskem fez sucessivas reavaliações sobre suas despesas com indenizações a moradores, à prefeitura da capital alagoana e ao governo do Estado. Atualmente, está por volta de R$ 14,6 bilhões. Por isso, todas as ofertas de compra estão condicionadas a verificações adicionais, as chamadas due diligences.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo