A hipótese de que o controle da Braskem seja "estatizado", com o capital dividido entre a Petrobras, que já tem um naco da companhia, e a venda da fatia da Novonor (ex-Odebrecht) para a Empresa de Petróleo de Abu Dhabi (Adnoc) há estava no radar do mercado.
Nesta quinta-feira (15), porém, a hipótese foi reforçada por uma publicação do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, nas redes sociais. Ele relatou uma reunião com o presidente da estatal árabe. Só que, desta vez, a reação não foi negativa, mas positiva: as ações da Braskem chegaram a subir 5% pela manhã. Neste final de tarde, a valorização foi moderada para cerca de 3%.
Em setembro, quando houve outra especulação sobre esse desfecho, os papéis da Braskem haviam se desvalorizado na mesma proporção. Entre uma reação e outra, ocorreram dois episódios: o afundamento parcial de uma mina da Braskem em Maceió, e a suspensão da multa da Novonor por acordo de leniência. A decisão sobre a controladora foi contestada na quarta-feira (14) pela Procuradoria-Geral da União (PGR), que havia feito o mesmo em relação à J&F.
O problema na capital alagoana acabou gerando um pedido de criação de uma CPI para investigar a atuação da petroquímica, que ganhou ainda maior interesse com o caso da suspensão da multa por decisão monocrática do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli. Depois da polêmica e do recurso da PGR, Toffoli definiu prazo de 60 dias para avaliar melhor a suspensão da multa.
Apesar do apetite dos árabes por negócios complexos - o fundo Mubadala comprou ativos de Eike Batista quando seu império já começava a ruir - a expectativa do mercado é que o negócio ainda demore a ser fechado. Mas a reunião foi vista como sinal de que (ainda) não naufragou.
Detalhe: o mercado especula que a Adnoc estaria disposta a pagar R$ 10,5 bilhões pela fatia da Novonor na Braskem. A multa que foi suspensa, em tese, seria de R$ 8,5 bilhões. Há divergências sobre esse valor, porque a Advogacia-Geral da União (AGU) assegura que a decisão de Toffoli só abrangeria parte do valor devido, não o todo.
O imbróglio da Braskem
A Braskem está à venda desde 2018. A companhia é controlada pela Novonor, novo nome de Odebrecht, que entrou em crise depois da operação Lava-Jato. A empresa privada tem 38,3% do capital total da Braskem e 50,1% das ações ordinárias, enquanto a Petrobras tem 36,1% do e 47% das ordinárias. O primeiro ensaio de venda foi uma tentativa de evitar a recuperação judicial da então Odebrecht. Mas fracassou, por falta de transparência na avaliação dos passivos provocado por danos relacionados à mineração de sal-gema em Maceió (AL). Não por acaso, o pedido de RJ veio 15 dias depois.
Desde então, a Braskem fez sucessivas reavaliações sobre suas despesas com indenizações a moradores, à prefeitura da capital alagoana e ao governo do Estado, mas a coluna ouviu de uma parte interessada na compra que ainda não há confiança sobre o valor estimado, hoje cerca de R$ 13 bilhões. Por isso, todas as ofertas de compra estão condicionadas a verificações adicionais, as chamadas due diligences.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo