Na reunião ministerial em que pediu mais empenho dos ministros para expor a agenda positiva de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdeu uma nova oportunidade de estancar sua perda de popularidade.
Ao mencionar, corretamente, a herança difícil que recebeu, extrapolou ao chamar o antecessor de "covardão", por não ter tido "coragem de fazer aquilo que planejou". Além de fazer provocação nível quinta série, característica de Jair Bolsonaro, Lula cometeu o mesmo erro da coluna ao afirmar que o ex-presidente teria ficado "dentro de casa no palácio chorando quase um mês". Não era lamento. Era conspiração.
O maior erro de Lula é acreditar que, criticando o governo anterior, vai ganhar pontos para o atual. Ser menos ruim não é igual a ser melhor. Seu antecessor será julgado e, espera-se, responsabilizado na medida de seus atos.
Se é verdade que o Brasil cresceu, o juro baixou, e agora há menos incerteza sobre programas sociais, também é verdade que a inflação está mais comportada, mas só sobe em velocidade menor sobre preços já altíssimos.
Além da oposição ativa nas redes, o próprio Lula tem contribuído para sua própria perda de popularidade. Perde pontos toda vez que afaga Nicolás Maduro ou compara as ações de Israel às de Hitler - como a coluna já observou, não se tratava de não poder criticar o governo de Netanyahu, mas fazer um paralelismo imperdoável a um aspirante a líder global.
O mesmo ocorre quando interfere em decisões de estatais, como fez recentemente na Petrobras. O problema, nesse caso, não é o destino dos dividendos, que pode e deve ser discutido. É atropelar, por decisão política, uma decisão corporativa já tomada - como fez várias vezes seu antecessor.
A interferência nas estatais pode não custar perda direta de popularidade - Bolsonaro ganhou -, mas afeta o mercado e, com isso, as projeções sobre a economia, que vão desembocar no bolso da população sob a forma de juro e inflação maiores. Se quer ser melhor avaliado, Lula deveria se reencontrar com o CEP tão mencionado na campanha eleitoral: crescimento, estabilidade e previsibilidade.