O jornalista Rafael Vigna colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
O balanço da Petrobras, divulgado nesta sexta-feira, trouxe na esteira uma memória desagradável ao mercado. Não se trata nem da queda de 33,8% no lucro líquido da companhia, que encerrou o período em R$ 124,6 bilhões, mas um outro dado que saltou aos olhos dos investidores. Isso acontece conforme Valter Bianchi Filho, gestor da Fundamenta Investimentos, porque em movimento atípico a estatal petrolífera brasileira reteve US$ 4,4 bilhões que deveriam ser pagos em divididos extra aos acionistas, em caixa, para o repasse em outro momento.
Além de certa estranheza, uma vez que na condição de acionista majoritário com 38% das ações da empresa, o governo seria o principal beneficiado com recursos necessários para ampliar receitas, o ferrolho passado no caixa levanta questionamentos no mercado sobre eventuais manobras contábeis em curso e tentativas de intervenção vistas no passado.
– É triste, já vimos a empresa quebrar em 2016, depois veio a lei das Estatais que se respeitada dilui os riscos, mas no ano passado alguns trechos foram revogados e o temor é que isso volte – argumenta.
O problema é que o fato, lembra Bianchi, remete ao segundo mandato de Dilma Rousseff (PT), quando na onda da “contabilidade criativa” a Estatal era usada como instrumento de controle de inflação ao segurar os preços da gasolina, fato que alinhado a outras decisões, como a compra de uma refinaria deficitária em Pasadena, nos EUA, levaram a uma vexatória correção de balanço indicando U$$ 34 bilhões em prejuízos em 2015 e ajudaram a conduzir o país a um ambiente de recessão em 2016.