O tradicional, e já esperado, reajuste das mensalidades escolares e de universidades ajudou a puxar a prévia da inflação oficial do país mediada pelo Índice Nacional de Preços Amplo 15 (IPCA-15) para cima. Além dos cursos regulares, que incluem taxas escolares e universitárias (+6,1%), os diversos, a exemplo das aulas de idiomas, avançaram 2,4%.
O indicador, que considera a segunda metade do mês anterior e a primeira do vigente, subiu 0,78% em fevereiro e ficou 0,47 ponto percentual acima da taxa de janeiro (0,31%), acumulando alta de 4,49% em 12 meses. O resultado veio pouco abaixo do esperado pelo mercado, que projetava elevação de 0,83%.
No entanto, o que chamou mesmo a atenção foi o comportamento dos preços no Rio Grande do Sul. Isso porque a alta apurada na região metropolitana de Porto Alegre foi a menor entre as 11 consideradas para a pesquisa do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), com 0,11%, o que equivale a 0,67 pontos percentuais a menos do que a média nacional e 0,96 pontos percentuais inferior à taxa mais alta registrada em Goiânia (1,07%).
Os motivos para o descolamento gaúcho passam pelo setor de transportes, grupo que sozinho ostenta 21% de peso no indicador. Para se ter uma ideia, por aqui, a gasolina caiu 1,59%, enquanto no Brasil aumentou 0,84%. Outro exemplo: as passagens aéreas despencaram 10,56% no país, mas em Porto Alegre a queda foi ainda mais acentuada (16,59%).
De alguma maneira, a retirada da Hurb e da 123 Milhas reacomodou o mercado e teve efeito ampliado no Sul, explica Oscar Frank, economista-chefe da CDL-Poa. Já nos combustíveis, a pressão vem do retorno da cobrança do ICMS com a chamada alíquota ad-rem (que é fixada por um valor em reais, e não sobre um percentual do valor do imposto), que começou a valer em todo o país no dia 1°. Desta vez, as justificativas não são claras, mas o item recebeu menor impulso no RS.
Leitura neutra com viés positivo
Outros fatores de destaque na composição da prévia da inflação em fevereiro foram alimentação e bebidas. Isso porque o mercado esperava por sobressaltos mais agudos e, na prática, foram verificadas altas aquém das estimativas.
Esse foi um dos elementos que concederam ao resultados divulgado nesta terça-feira (27) uma “leitura neutra, com viés positivo”, conforme assinala o economista da XP, Alexandre Maluf. Ele também aponta para surpresas positivas nos núcleos inflacionários dos serviços e da indústria, ambos percebidos sempre com mais atenção pelo Banco Central para definir estratégias de política monetária que contemplem a elevação dos juros.