O mundo é mesmo uma roda viva: na segunda-feira (22), o dólar encostou em R$ 5 (fechou em R$ 4,987) e a bolsa recuou,81% com desconfianças sobre o custo fiscal do pacote de estímulo à indústria.
Nesta terça-feira (23), o dólar está quase estável, com sinal negativo - que nesse caso é bom - enquanto a bolsa neutraliza as perdas da véspera, com avanço de 0,84%. O que fez mudar o humor? Três palavras mágicas pronunciadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura: "corte de gastos".
Mesmo submetido a inumeráveis desafios, Haddad reiterou a intenção de perseguir a meta de déficit zero neste ano. Afirmou que o Ministério do Planejamento está fazendo uma "radiografia de possíveis cortes de gastos" que serão anunciadas ainda este ano, além da revisão de "despesas tributárias" - os subsídios e incentivos que o ministro tanto combate.
Embora não tenha detalhado que cortes seriam esses, sustentou que os cortes devem começar "pelo andar de cima" e envolver Executivo, Legislativo e Judiciário.
— Eu penso que tem espaço, sobretudo se os três Poderes forem mobilizados. Um pacto a começar de cima para baixo, e aí cortando com racionalidade, levando em consideração justiça social, desigualdade, princípios com os quais todo mundo é capaz de concordar.
Especialistas em contas públicas estimam que o governo Lula teria um espaço para cortes sem muito esforço de até R$ 42 bilhões só com a mudança nas vinculações de despesas, cujo limite mínimo sobe por conta do aumento da arrecadação federal.
O que é déficit zero e por que é importante
A meta de déficit zero adotada pelo Brasil é um compromisso relacionado ao chamado "resultado primário", Isso quer dizer que o governo não vai gastar mais do que arrecada, sem considerar as despesas com a dívida pública. Significa que, ao não comprometer recursos que não tem (o que significa, na prática, gastar mais do que arrecada), não vai aumentar a dívida do Brasil. Ter déficit zero representa disposição de não elevar o já pesado endividamento público. Quanto maior a dívida, maior seu custo, o que dificulta a redução do juro.