Se a Argentina já era indecifrável antes da presidência de Javier Milei, o novo ocupante da Casa Rosada adicionou várias camadas de dificuldade de compreensão. A votação de sua "lei ônibus" quase transformada em van - encolheu de 664 para 386 artigos - começou às 10h30min desta quarta-feira (31) com expectativa de ao menos 40 horas de debates.
E não há certeza de que o presidente queira, de fato, que seja aprovada. Apesar de todos os recuos aceitos por Milei para obter quórum, os dois maiores jornais argentinos - Clarín e La Nación - registraram dúvidas de fontes governistas de que Milei realmente busque a aceitação ou prefere acusar a oposição de não abrir mão de privilégios e "avançar com outras ferramentas".
Um dos motivos da especulação é a dificuldade de saber qual será a linha do "ônibus" que sairá do Congresso. Como se sabe, Milei não tem maioria parlamentar, nem na Câmara nem no Senado.
Até agora, conta com apoio maciço apenas de seu próprio partido (La Libertad Avanza) e o do ex-presidente Maurício Macri (PRO), o que lhe dá 84 votos favoráveis.
Também já se sabe que 104 votos de representantes da Unión por la Patria e da Frente de Izquierda serão pela rejeição total, sem negociação.
Milei precisa colher mais 45 posições favoráveis de 69 votos de partidos e coalizões "indpeendentes' - Unión Cívica Radical (34 votos), Hacemos Coalición Federal (23), Innovación Federal (9) e Independencia (3) - para somar os 129 necessários à aprovação na Câmara dos Deputados, primeira etapa de apreciação.
Como o cálculo é apertado, a avaliação é de que tudo pode acontecer. Desde cobranças muito altas para ganhar votos a mudanças feitas ao sabor de interesses diferentes dos de Milei. Do destino final do "ônibus" vai depender a economia da Argentina e, em consequência, do futuro das relações com o Brasil e dos negócios que empresas gaúchas fazem com clientes do outro lado da fronteira.