Certo, a tempestade que varreu Porto Alegre na noite de terça-feira (16) superou o padrão já severo de várias anteriores. Mas, outra vez, a CEEE Equatorial não deixa apenas seus clientes sem luz e sem perspectivas de restabelecimento, mas também sem comunicação.
Se houvesse pronta normalização, o contato com a sociedade gaúcha não seria tão crucial. Mas como o superintendente técnico da empresa, Sérgio Valinho, não garante nem que a situação estará normalizada até sexta-feira (19), é preciso dar muitas explicações. A distribuição de energia elétrica pode estar privatizada, mas é um serviço público, que exige o devido respeito à população que paga caro pela prestação.
A empresa já tem o terceiro presidente desde a privatização, em janeiro de 2021. Começou com Maurício Velloso, passou por Raimundo Barreto Bastos e, desde agosto de 2023, está com Riberto Barbanera. Isso significa. É bom lembrar que o primeiro e o segundo haviam prometido "resposta rápida" para situações como a que os gaúchos enfrentam pela enésima vez.
As sucessivas trocas e a incapacidade de cumprir a promessa abrem uma dúvida crítica para a Equatorial: seu modelo de negócio resiste à mudança climática? A especialidade da empresa é assumir empresas com maus indicadores e reestruturá-las para operar melhor. Foi assim com a Celpa, concessionária do Pará, que a empresa que tem ações negociadas na bolsa de valores chegou a emplacar como segunda colocada no ranking de qualidade de serviço da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Desde que as tempestades severas deixaram de se tornar exceção para virar regra periódica, porém, a Equatorial não consegue fazer a mágica da reestruturação. No ranking de 2022 - o do ano passado só será atualizado em março próximo -, a unidade do Pará havia caído para um ainda honroso quarto lugar, enquanto as demais estavam na lanterna. É bom lembrar que a CEEE já era a última colocada antes da privatização.
Para tornar a operação mais eficiente, não basta mais reduzir as despesas de pessoal, como fez a Equatorial no Rio Grande do Sul. É preciso investir a sério no reforço de todo o sistema de distribuição. Não só nos postes, que ondulavam com o vento na angustiante noite de terça-feira (16), mas na fiação, em sistemas inteligentes de redistribuição de fluxo da eletricidade e, especialmente, na estrutura de restabelecimento do serviço.
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