Quando a Equatorial comprou a CEEE-D, surgiram inúmeros boatos, como os de que a empresa era responsável pelos apagões no Amapá e suas operadoras tinham má qualidade de serviço.
Como a checagem se tornou atividade indispensável na apuração jornalística, a coluna foi conferir e, na época, constatou que uma de suas unidades estava no segundo lugar dessa avaliação anual. Agora que gaúchos ainda sofrem com falta de luz duas semanas depois do mais recente ciclone - e diante dos efeitos de um novo -, era hora de verificar novamente.
A Equatorial Pará, que estava em segundo lugar na classificação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em 2021, recuou para quarto (veja reprodução abaixo ou clique aqui para ver o original). Até aí, não haveria grande problema, porque flutuações no grupo de ponta são comuns. O incômodo é que as outras três operações na companhia, a de Goiás, a do Maranhão e a CEEE, estão na lanterna do ranking (veja reprodução acima) - sim, a escolha da palavra "lanterna" não é coincidência.
É bom lembrar que a CEEE já estava em último lugar na época da privatização, sintoma de quanto a empresa precisava de uma injeção de recursos e eficiência. Só que, em dois anos, nada mudou - embora alguns gaúchos avaliem que mudou, sim, para pior. Como os executivos da Equatorial destacaram logo depois da compra, a especialidade da empresa é o chamado "turnaround", ou reestruturação com foco em resultados operacionais - corte de despesas e aumento de lucro.
É fato que melhorar o serviço da CEEE-D seria um desafio para qualquer nova controladora. É bom lembrar, para quem já contesta - não sem razão - o acerto da privatização, que a companhia devia, na época, certa de R$ 4 bilhões só em ICMS. Ou seja, era um estatal estadual que não pagava impostos a seu controlador. Mas para que a privatização da CEEE-D não passe à história como um fracasso, sua nova controladora tem de cumprir outro compromisso assumido com a Aneel: a melhora nos indicadores de qualidade. Os atuais envergonham os gaúchos. E a companhia.
Sobre o ranking
A classificação da Aneel se chama, oficialmente, "ranking da continuidade do serviço" e é dividida em dois grupos: distribuidoras de grande e de pequeno porte. A ordem de posições é definida pelo indicador de desempenho global de continuidade, formado pela média de dois dados, a duração e a frequência de interrupções no abastecimento. A agência compara o que foi registrado na "vida real" com os limites anuais que ela mesmo fixa. E além das empresas da Equatorial que constam no ranking mais recente, com base em dados de 2022, duas não foram consideradas, a de Alagoas e a do Piauí, conforme a Aneel "dada a situação particular dos limites estabelecidos para os indicadores de continuidade dessas empresas, não permitindo uma comparação adequada com as demais distribuidoras".
O que diz a Equatorial
Em nota à coluna, a Equatorial se manifestou sobre suas posições no ranking:
"Em relação ao ranking da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para distribuidoras acima de 400 mil clientes, a CEEE Grupo Equatorial Energia informa que foi uma das 10 empresas que mais evoluíram no índice de Desempenho Global de Continuidade (DGC), com redução de 0,10 pontos.
O DGC consiste na média entre os valores apurados de Duração Equivalente de Continuidade (DEC) e Frequência Equivalente de Continuidade (FEC) das distribuidoras. Quanto menor o índice, melhor a evolução da empresa.
O DEC mostra o intervalo de tempo que cada consumidor, em média, ficou sem energia elétrica, considerando interrupções iguais ou superiores a três minutos. Já o FEC é o número de interrupções ocorridas, em média, no período observado.
A CEEE Equatorial reforça que continua com seu plano de investimentos e destaca que, mesmo diante da posição em que ficou no Ranking ANEEL, está empenhada em reverter esse cenário e atender cada vez melhor os mais de 1,8 milhão de clientes gaúchos."