Um dos argumentos favoráveis à privatização é o de que, livres das amarras burocráticas da gestão pública, as empresas que prestam serviços diretos a consumidores podem se ajustar com mais velocidade às mudanças tecnológicas e ambientais.
Ao alegar que "nenhuma empresa está dimensionada para atender um porte de evento dessa natureza", o diretor-presidente da CEEE Equatorial, Raimundo Barretto Bastos, contradiz essa lógica.
Em caso muito semelhante, no ano passado, seu antecessor no cargo, Maurício Velloso, havia afirmado que "o plano é dar resposta rápida para a população". E mais, admitiu que investimentos para dar "robustez ao sistema levam tempo, mas vamos ter medidas e dar velocidade de resposta". Cadê?
A essa altura, só negacionistas do clima ignoram que a mais evidente consequência do efeito-estufa é o aumento da severidade dos fenômenos meteorológicos. Ciclones extra-tropicais ocorrem com certa frequência. Mas nunca causaram tantos prejuízos, tanto a cidadãos quanto a empresas.
Isso está detalhado em cada novo alerta feito pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU), como o de março passado. "Adiar as medidas de limitação e adaptação (...) reduziria sua viabilidade, e as perdas e danos aumentariam", avisou o IPCC. Há mais de uma década tema não sai dos debates do Fórum Econômico Mundial realizado anualmente em Davos, na Suíça, definidor de tendências do capitalismo global.
Não é por outro motivo que a coluna dá tanta atenção ao tema ESG, que compreende práticas de governança corporativa, social e ambiental. Alegar surpresa com fenômenos climáticos severos, em 2023, é mal-visto até no mercado financeiro. Em artigo publicado nesta quarta-feira (19) no jornal Zero Hora (leia a íntegra aqui), é Maurício Harger, diretor-geral da CMPC Brasil, que afirma:
"Há um movimento que tenta deslegitimar a preservação dos recursos naturais, imputando à pauta um mero rótulo ideológico. O Brasil também teve seus tropeços, com más notícias relacionadas ao desmatamento e a quebras na transparência contábil de grandes players. A boa notícia é que esses obstáculos não brecaram a marcha do ESG entre as grandes corporações."
A controladora da CEEE Equatorial é uma empresa de capital aberto, que negocia ações e outros papéis no mercado de capital, não uma estatal atrasada por amarras nem um negócio de fundo de quintal - com todo respeito a quem desafia a sorte empreendendo, mesmo sem estrutura adequada. Não pode alegar, ano após ano, que desconhece um dos mantras do mercado.