A Gerdau inaugura nesta terça-feira (12) a reforma de sua aciaria de Sapucaia do Sul, resultado de investimento de R$ 200 milhões. Segundo André Gerdau Johannpeter, vice-presidente do conselho de administração, a unidade já nasceu, em 1948, com uso de sucata como matéria-prima, característica que antecipou um dos princípios da economia circular. No discurso na cerimônia de inauguração, Johannpeter deu um recado ao governador Eduardo Leite:
— Não posso deixar de reconhecer, governador, que o grande dilema do Rio Grande do Sul é a competitividade.
Não avançou em críticas ao plano de Leite de aumentar impostos ou cortar incentivos. Sobre a reforma sendo inaugurada, acrescentou:
— Investimentos como este significam geração de empregos e de impostos.
Em entrevista exclusiva à coluna, Johannpeter comentou esse desafio do Executivo estadual, e também afirmou esperar uma solução do governo federal para a “invasão” do aço chinês até o fim do ano.
Como vê a economia aqui e lá fora, com ainda mais volatilidade e incerteza depois da pandemia e em meio a guerras?
Há mercados que estão positivos, como Estados Unidos, Canadá e México. Existem conflitos, é muito triste ver guerras e perdas de vidas. No Brasil, a indústria enfrenta desafios, a gente está sofrendo muito com a importação, então o mercado doméstico que não está crescendo, está andando um pouco de lado, e caindo um pouco o consumo. Mas muito desse consumo está vindo de importações e com a penetração, que está preocupando o setor. Então, quando a gente olha, realmente, é um copo meio cheio, meio vazio. Para nós, no aço, está bom na América do Norte, nos países da América Latina, uns melhores, outros piores, e o Brasil com desafios para a indústria.
Nos EUA, a Gerdau fornece para a construção de produtoras de chips?
Nos Estados Unidos, há dinheiro para infraestrutura, muito investimento para energia renovável, para tudo que descarboniza a economia, e investimentos para fábricas de chips. E nisso tudo vai aço. Então, temos uma contribuição importante, não só nós, como todo o setor do aço nos Estados Unidos.
Qual a preocupação do setor do aço com a importação crescente da China.
A penetração de aço importado é por volta de 10%, 12% do consumo no Brasil. Neste ano, saltou para 25%. A maior parte vem da Ásia, principalmente da China. Então, o que pleiteamos é uma tarifa de importação de 25%, em vez dos 9,6% atuais. Estados Unidos, Europa e México têm 25%. Esse aço não entra lá, e procura tarifas mais baixas, caso do Brasil.
Essa tarifa foi reduzida recentemente?
Foi, no ano passado, e agora em dezembro voltaria. O governo adiantou elevando 10%, para 12%. Mas o foco em 25% é por que outros países estão praticando. Estivemos recentemente na China. A economia lá está mais lenta, e há excesso de capacidade. A política é muito focada em manter empregos e, mesmo perdendo dinheiro, eles exportam. Estamos mostrando ao governo e pedindo ajuda, que seria temporária, precisa de urgência para estancar.
Que retorno têm recebido?
O governo tem analisado, estivemos no Ministério da Indústria e Comércio, com o vice-presidente Alckmin, que também é o ministro da Indústria, que faz a análise técnica, e com o ministro (Fernando) Haddad, porque a Fazenda também participa, e temos feito vários contatos tentando mostrar a situação do setor. Esperamos solução até o final do ano, porque várias empresas do setor já anunciaram layoffs, alguns já têm algum desemprego.
A própria Gerdau fez demissões.
Sim, temos por volta de 600 postos de demissões, e outros em risco nesse momento. A Gerdau emprega cerca de 18 mil pessoas no Brasil. Mesmo assim, é significativo. Nesses 600, cada um tem família e precisa de sustento, e são pessoas treinadas, engajadas, pessoal da empresa, que a gente não quer perder.
E se não vier essa resposta positiva até o final do ano, o risco é de haver mais desemprego?
O risco é de haver mais desemprego, e já começamos a ver cancelamentos de investimentos. Não anunciamos ainda, mas outros produtores do setor do aço já anunciaram.
Qual o foco do investimento em Sapucaia?
É uma modernização da aciaria, que é de 1948. É um investimento muito simbólico, mostra a nossa confiança no longo prazo. Apesar do momento difícil, a gente olha sempre à frente, sempre investe a longo prazo, porque são investimentos que demoram para serem aprovados, em retorno, e são importantes para manter a unidade atualizada tecnologicamente.
Outro objetivo é garantir sustentabilidade?
Essa unidade já nasceu na rota da sucata, tem um centro de reciclagem importante. Hoje se fala de economia circular, e essa já nasceu recicladora lá em 1948. Continuamos mantendo essa característica de sustentabilidade, porque a planta é recicladora de sucata e gera muito menos CO2.
Como a Gerdau vê o debate sobre aumento de ICMS ou corte de subsídios?
Estamos com a posição da indústria, de que não quer mais aumento de custo. Afeta todas as cadeias. Se o meu fornecedor não está competitivo, o meu cliente não está competitivo, eu também perco a competitividade. Qualquer aumento de imposto é muito pesado. Qualquer aumento de imposto nesse momento não é desejável. O governador é o gestor do Estado. Assim como a gente faz escolhas aqui na Gerdau, o governador vai ter que fazer suas. Se cortar incentivo, tira a competitividade, mas volto à raiz da equação: mais imposto tira a competitividade, e incentivo ajuda. Por que foram feitos os incentivos? Para compensar alguma diferença que o Rio Grande do Sul sofre por onde está localizado.