Depois que o desastre do afundamento de bairros de Maceió ganhou contornos dramáticos com o risco de colapso de um dos pontos de exploração, o futuro da Braskem, que era complexo, ficou ainda mais nebuloso.
Mas o fenômeno que expulsou milhares de famílias de suas casas é antigo: em 2019, foi determinante para o fracasso da primeira tentativa concreta de venda da companhia, para a multinacional LyondellBasell. A potencial compradora avaliou que não foi informada sobre a real extensão dos danos. Agora, ficou claro que, de fato, não foi. Nem a multinacional, nem a sociedade.
Agora, a situação ameaça comprometer outro negócio que parecia iminente, a compra do controle da companhia pela estatal de petróleo de Abu Dhabi, a Adnoc, que deveria dividir o comando da petroquímica com a Petrobras. Na segunda-feira (4), a agência de classificação de risco Fitch - uma das três maiores do mundo -avaliou que o eventual colapso da mina 18 pode ter "impacto significativo" no fluxo de caixa da petroquímica.
O relatório da Fitch aponta risco de novas ações judiciais contra a Braskem, o que pode afetar sua capacidade de acesso a recursos de mercado, porque os investidores estão mais restritivos e preocupados com questões ambientais, sociais e governamentais (a agenda ESG). Embora pareça afirmar o óbvio - "as consequências de um potencial incidente ainda são incertas" - a agência faz um claro sinal de alerta para eventuais candidatos à compra.
Nesta terça-feira (5), mais uma consequência negativa para a Braskem foi materializada com a exclusão da companhia do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da bolsa de valores do Brasil, a B3. Em nota, a instituição afirma ter considerado quatro fatores: 1. O impacto ESG da Crise, 2. A gestão da crise pela companhia, 3. O impacto de imagem da crise na companhia e 4. Resposta da companhia à crise. A empresa já havia cancelado a participação no COP28, como reportou o colega Rodrigo Lopes, direto de Dubai. Essa exclusão não é apenas simbólica: é uma porta que se fecha no acesso a capitais, conforme alertou a Fitch, porque muitos investidores só direcionam recursos a empresas com essa chancela sustentável.
Como a coluna vem explicando, enquanto acompanha os desdobramentos do negócio e as condições atuais para fechar um acordo, a venda da Braskem é uma imposição da recuperação judicial da Novonor (ex-Odebrecht). As ações da rentável companhia petroquímica foram dadas em garantia a bancos credores da controladora. O tema tem impacto no Rio Grande do Sul porque a responsável pelos danos em Maceió é também dona da maior parte do polo de Triunfo, onde produz diversas resinas plásticas usadas por fábricas que transformam esse material em produtos de consumo, que vão de embalagens a móveis.
A estrutura da Braskem
Com 41 unidades industriais, das quais 29 no Brasil, nos Estados de Alagoas - além de Maceió, tem operações na vizinha Marechal Deodoro, onde nasceu o primeiro presidente do Brasil -, Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, a companhia se define como "maior produtora de resinas termoplásticas das Américas". Na região do Grande ABC são quatro unidades: uma de polietileno, uma de polipropileno e duas de produtos químicos. Fora do país, tem produção no México, nos Estados Unidos e na Alemanha. Até a emergência com o risco de colapso na capital alagoana, estudava se instalar na Tailândia para produzir propileno verde - a partir de etanol renovável -, um tipo de resina que gera produtos plásticos mais resistente, como baldes, móveis e até para-choques de automóveis. Todas as decisões são tomadas na sede, em São Paulo, onde ficam os escritórios centrais da companhia.
O imbróglio da venda
A Braskem está à venda desde 2018. A companhia é controlada pela Novonor (ex-Odebrecht), que entrou em crise depois da operação Lava-Jato. A empresa privada tem 38,3% do capital total da Braskem e 50,1% das ações ordinárias, enquanto a Petrobras tem 36,1% do e 47% das ordinárias. O primeiro ensaio de venda foi uma tentativa de evitar a recuperação judicial da então Odebrecht. Mas fracassou, por falta de transparência na avaliação dos passivos provocado por danos relacionados à mineração de sal-gema em Maceió (AL). Não por acaso, o pedido de RJ veio 15 dias depois. Desde então, a Braskem fez sucessivas reavaliações sobre suas despesas com indenizações a moradores, à prefeitura da capital alagoana e ao governo do Estado. Atualmente, está por volta de R$ 14,6 bilhões. Por isso, todas as ofertas de compra estão condicionadas a verificações adicionais, as chamadas due diligences.
A íntegra da nota da B3
B3 exclui Braskem do Índice de Sustentabilidade Empresarial
São Paulo, 5 de dezembro de 2023 – A B3 comunica que as ações da Braskem deixarão de integrar a carteira de seu Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3) a partir de 8 de dezembro de 2023. Dessa forma, sua participação será redistribuída proporcionalmente aos demais ativos integrantes da carteira, e será efetuado o ajuste no redutor deste índice. Em função da situação de emergência decretada pela Prefeitura de Maceió – AL, envolvendo uma mina da Braskem, a B3 iniciou em 1/12/2023 o Plano de Resposta a Eventos ESG relacionados ao ISE B3, disponível neste link. A decisão considerou os quatro pilares divulgados no Plano de Resposta: 1.O impacto ESG da Crise, 2. Gestão da Crise pela Companhia, 3. Impacto de imagem da crise na Companhia e 4. Resposta da companhia à crise. A decisão não deve ser tomada como pré-julgamento das responsabilidades da companhia, mas decorre da aplicação do disposto na metodologia do ISE B3, item 5.3, que estabelece a exclusão de ativos que "durante a vigência da carteira se envolvam em incidentes que as tornem incompatíveis com os objetivos do ISE B3, conforme critérios estabelecidos na política de gestão de riscos do índice".
Leia mais na coluna de Marta Sfredo