Um brasileiro que assistisse à saída do novo presidente da Argentina ao mítico balcão da Casa Rosada pode não ter entendido o coro da multidão na Plaza de Mayo: era "Peluca, Peluca, Peluca", um dos emblemáticos apelidos de Javier Milei, por óbvios motivos capilares.
E a maioria dos brasileiros pode ignorar que o agora ex-presidente Alberto Fernández é chamado por "El Topo" (toupeira, em português), e a existência, no novo gabinete de escassos nove ministros - primeiro passo dos anunciados cortes - de um "Toto" e uma "Pato".
Apelidos não são exclusividade da classe política argentina, fazem parte de um traço cultural que transforma muitos cônjuges ou namorados em "Gordo" e "Gorda" e, não raro, vire parte essencial da identidade de pessoas públicas. O mesmo ocorre com quase todos os personagens públicos.
No caso de Fernández, a associação com a toupeira não significa uma avalição de sua capacidade intelectual - no Brasil, poderia ser. Tem relação direta com a aparência física, assim como o "El Peluca" de Milei. O antecessor de Fernández, Maurício Macri, não tinha uma apelido muito popular, mas era chamado de "domador de reposeras", algo como domador de espreguiçadeiras, alusão ao fato de ser filho de um milionário e não ter precisado fazer muito esforço para ter sucesso.
Em seu ministério, Milei terá um "Toto" na Economia - Luis Caputo, também chamado de "Messi das finanças", apelido que agora será testado ao limite - e uma "Pato" na Segurança, como é chamada Patrícia Bulrich, candidata derrotada à presidência. Quando Bullrich apoiou Milei a ponto de colocar seu vice na disputa, Luis Petri, no ministério da Defesa, o meme que ganhou as redes sociais na Argentina foi o de um pato (Bullrich) com um leão (um dos símbolos de campanha do novo presidente.
É bom lembrar que outro dos apelidos de Milei, "El Loco", não embute necessariamente uma avaliação psicológica. "Loco", em vários círculos, é uma saudação carinhosa dirigida ao interlocutor - claro, dependendo do contexto. A celebração da posse de Milei no Teatro Colón tinha prevista, no programa, a famosa Balada para un Loco, com música do gênio argentino Astor Piazzolla e letra do poeta uruguaio Horacio Ferrer, que tem o trecho "Loco, loco, loco, como un acróbata demente saltaré sobre el abismo de tu escote hasta sentir que enloquecí tu corazón de libertad".
Quem enfrentou vários apelidos - alguns merecidos, outros resultado de misoginia - foi a ex-presidente Cristina Kirchner. Um dos publicáveis mais recentes não foi tão óbvio: "Algebra", porque estava cheia de operações - nesse caso, de investigações de enriquecimento ilícito.