Uma startup gaúcha se destacou, neste ano, por realizar testes in vitro de segurança e eficácia para produtos e matérias-primas da área da saúde com foco em inovação científica, sem recorrer a testes em animais.
A Núcleo Vitro (NV) é a única do Estado e de seu segmento entre as seis classificadas para a disputa da Amcham Arena, realizada pela Amcham Brasil. A competição conecta negócios inovadores a potenciais investidores e grandes empresas.
— É um grande prestígio estar entre as indicadas, sendo a única startup de biotecnologia. Estamos muito felizes com o reconhecimento e com grande expectativa para o evento – afirma Bibiana Matte, diretora científica da Núcleo Vitro.
Bibiana é graduada em Odontologia pela UFRGS. Participou também do programa Ciência Sem Fronteiras na University of Michigan (EUA), onde teve seu primeiro contato com cultivo de célualas. Os métodos da NV têm como base a biologia celular e molecular, que são alternativas ao teste em animais.
No caso de cosméticos, farmacêuticos ou matéria-prima, as pesquisas apontam os diferenciais de cada produto por meio de engenharia de tecidos para reconstrução de órgãos em laboratório.
— A Núcleo Vitro nasce porque o mercado precisava de inovação com mais competitividade. Com metodologias avançadas de avaliação in vitro, mostramos que é possível realizar estudos sem recorrer a testes em animais e sem a necessidade de longos estudos clínicos em seres humanos — destaca Bibiana.
Entre as inovações da Núcleo Vitro, estão quatro modelos de pele equivalentes registrados, desenvolvidos em Porto Alegre, além de uma patente depositada. O modelo inicial, chamado de NV Skin, replica as duas principais camadas da pele humana — derme e epiderme — e permite avaliar a eficácia de diferentes produtos cosméticos de forma precisa.
Já a NV Melanin é um modelo de pele pigmentada que inclui melanócitos, responsáveis pela produção de melanina na pele humana. A NV Aged simula características da pele envelhecida, para empresas que buscam desenvolver produtos antienvelhecimento. Na pandemia, a Núcleo Vitro desenvolveu ainda a NV Viral. Esse modelo de pele inclui partículas virais, e mostrou-se eficiente na avaliação de produtos para eliminar vírus presentes em superfícies contaminadas.
— Os estudos in vitro e suas potencialidades não são amplamente conhecidos como os estudos clínicos, o que faz com que o mercado os veja como alternativas de alto custo e difícil acesso para empresas de médio e pequeno porte. Com tecnologia, desenvolvemos estudos com 10% do valor entendido pelo setor — avalia Bibiana.
Em quatro anos de atuação, a Núcleo Vitro já avaliou mais de 1,6 mil produtos, e desenvolveu mais de 30 metodologias de estudos diferentes, atuando com cerca de 150 empresas do Brasil e de 10 outros países, como África do Sul, Alemanha, Estados Unidos e Turquia.
Formada por uma equipe de cinco mulheres, a startup desenvolve tecnologias que permitam a escalabilidade de sua produção — entre elas, um processo automatizado em bioimpressora, que reduz o tempo necessário de desenvolvimento em 50% e diminuiu os consumíveis necessários em 80%, resultando em significativa melhora nos índices de geração de resíduos.
* Colaborou Mathias Boni