Marcada por sensação térmica de até 52º C em plena primavera, a onda que calor que domina o centro do país já provocou aumento de 16% no consumo de energia só na primeira quinzena de novembro. Na Avenida Faria Lima, em São Paulo, a demanda na segunda-feira calorenta nos prédios envidraçados que abrigam boa parte do mercado financeiro deu um salto de 36% em relação ao dia útil anterior.
As inquietações com o maior uso de climatização e refrigeração forçado pelas altas temperaturas já chegou ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que na segunda-feira (13) registrou novo recorde na demanda instantânea de carga: 100.955 megawatts (MW) — a primeira vez na história em que superou cem mil megawatts.
No comunicado, o ONS afirma que "a principal razão para este comportamento da carga é a significativa elevação de temperatura verificada em grande parte do Brasil". Demanda instantânea de carga define o volume necessário de energia para atender às necessidades em um momento específico. E o recorde da segunda-feira já foi superado na terça, quando atingiu 101.374 MW, conforme o boletim diário da operação disponível no site do ONS (clique aqui para conferir), que aponta outros quatro recordes (veja no final deste texto).
A primeira consequência possível é um aumento das tarifas, porque o ONS já determinou a ligação de usinas termelétricas - mais caras - desde segunda-feira. Há um instrumento rápido de repasse nesses casos, o sistema de bandeiras, que não havia sido aplicado neste ano: a amarela ou até a vermelha podem ser acionadas a qualquer momento. Quando descartou o retorno do horário de verão, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, argumentou que os reservatórios de água estavam com níveis confortáveis. Agora, há duas novas variáveis nessa conta: a explosão da demanda por climatização e refrigeração e a necessidade de acionar as térmicas.
Outro argumento frequente para dispensar a mudança nos relógios para esticar o aproveitamento da luz do dia é o fato de o pico de consumo ter se deslocado do início da noite para o início da tarde, quando ocorrem as temperaturas mais elevadas. Isso é comprovado pelo recorde na demanda instantânea de carga, que ocorreu às 14h20min da terça-feira (14). Mas o calor fora do normal no centro do país tem se prolongado até o final da noite e, quando isso não acontece, é interrompido por tempestades.
Com o Sistema Integrado Nacional (SIN) sobrecarregado, há maior risco de incidentes. Um desequilíbrio pontual pode acionar os mecanismos de proteção, que desligam parte da rede para preservá-la de um problema mais grave. O Sin interliga todo o país, portanto incidentes significativos, mesmo localizados, podem provocar efeitos em cascata, como se viu no mais recente "apagão" nacional.
Ainda que não suavize a demanda instantânea no início da tarde, retomar o horário de verão pode dar mais estabilidade ao sistema. É uma das poucas iniciativas de prevenção de efeito rápido, porque reforços no sistema ou aumento de geração são medidas de longo prazo. Se, como os meteorologistas advertem, o pico do El Niño ocorrer em dezembro e o fenômeno agravado pela mudança climática se estender até abril, é melhor mesmo se prevenir.
Os vários recordes de demanda na terça
- Carga média diária no Sudeste/Centro-Oeste: 53.471 MWmed ante 52.659 MWmed de 13/11/2023
- Carga média diária no Nordeste: 14.093 MWmed ante 13.989 de 25/10/2023.
- Carga média diária nacional: de 89.861 MWmed ante 89.063 de 13/11/2023.
- Demanda máxima instantânea no Sudeste/Centro-Oeste: de 61.390 MWmed, ante 60.502 de 13/11/2023.
- Demanda máxima instantânea nacional de 101.474 MW ante 100.955 de 13/11/2023.