Toda a vez que ele aparece, bagunça o clima no mundo. Um velho conhecido dos gaúchos, o El Niño, - fenômeno que provoca chuvas acima da média no sul do país -, está em formação.
Especialistas ainda não confirmam a sua chegada, mas alguns modelos climáticos apontam para que, se confirmado, seja tão intenso quanto foi em 1982 e 1997. Nos dois anos, Rio Grande do Sul e Santa Catarina viveram dias de horror.
O meteorologista Leandro Puchalski, da Central RBS de Meteorologia, explica que há indícios de que será um dos mais fortes dos últimos tempos:
- Só no final do inverno teremos a certeza de que ele está configurado e mais para perto conseguiremos traçar a sua intensidade. Sabemos que o
El Niño aumenta o volume de chuva, mas é preciso saber se elas serão bem distribuídas ou não.
Dentre os sinais abordados pelo especialista estão a diminuição do vento e o aumento da temperatura do Oceano Pacífico. Conforme o meteorologista Luiz Kondraski, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), o Pacífico Equatorial tem se mantido desde abril com a temperatura da água na superfície 5°C acima da média. O El Niño tem por característica atuar entre os meses de outubro e fevereiro, sendo dezembro o pico de ação, com maiores acumulados de chuva.
O último relatório do Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Estado do Rio Grande do Sul alerta os agricultores para o fenômeno. No campo, o excesso de chuva poderia atrapalhar a colheita de trigo, já que a maior umidade favorece o aparecimento de fungos. Também pode prejudicar o plantio de arroz. Mas, se a chuva não for exagerada, favorece as safras de soja, já que é no verão que precisam de mais água.
Independentemente da comprovação de que o El Niño vai se configurar, segundo a meteorologista Thaize Banoni, da Somar Meteorologia, a partir de junho e julho a tendência é de que as frentes frias cheguem ao Estado e não consigam avançar para o norte, provocando grandes acumulados de chuva.
O estrago de 1997
- Os fenômenos El Niño mais intensos desde que o sistema de monitoramento existe foram entre 1982 e 1983 e 1997 e 1998, segundo registros do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC).
- Em outubro de 1997, o Rio Grande do Sul viu suas médias de volume de chuvas triplicarem, deixando mais de 15 mil pessoas desabrigadas e quase uma dezena de municípios em situação de emergência.
- A cultura de trigo foi uma das mais prejudicadas, tendo a sua colheita atrasada.
- Rodovias cederam, como ocorreu com 300 metros da BR-116, em Santa Catarina.
- No Rio Grande do Sul, 18 rodovias foram afetadas.
- O efeito do El Niño foi sentido em outros países. Na Indonésia, houve seca, e na Califórnia, tempestades. -Eventos como o El Niño e La Niña costumam se alternar entre três e sete anos.