O inverno ainda nem terminou, mas as noites já são povoadas de sonhos com a volta do horário de verão, extinto em abril de 2019. O mesmo havia ocorrido no ano passado, quando o país temia um racionamento, mas nem assim o adiantamento de uma hora nos relógios foi retomado.
A esperança de dias mais longos retornou ancorada no momento de retomada de bares e restaurantes, que se beneficiam de mais horas com luz natural. No entanto, no Ministério de Minas e Energia, domina a avaliação de que não há tempo suficiente para "estudar eventuais benefícios com a medida".
Integrantes do governo já admitem, extraoficialmente, que a medida é inviável para este ano. Oficialmente, "ainda não há definição com relação às implicações e implementação da referida medida". Caso houvesse mudança de horário, teria de ser comunicada com dois meses de antecedência para que todas as atividades impactadas pudessem se reorganizar. Um exemplo é o transporte aéreo, que tem de refazer escalas de voos e de pessoas. Bancos e outros segmentos mais automatizados também seriam afetados.
De 1985 a 2018, houve horário de verão de forma quase ininterrupta. Desde 2008, quando um decreto o tornou permanente, a mudança nos relógios para a frente era feita no terceiro domingo de outubro. Neste ano, significaria mexer nos ponteiros no meio da campanha do segundo turno. Como se sabe, a vigência do horário entusiasma parte da população e desagrada profundamente outra, ou seja, embute um risco de imagem.
O objetivo do horário de verão era economizar eletricidade e evitar risco para o sistema com o deslocamento do chamado pico de consumo. Esticando o dia, o consumo doméstico não compete com o industrial e comercial e evita sobrecargas que podem provocar até desligamento da rede elétrica, por mecanismo de proteção.
No entanto, novos hábitos mudaram o momento de maior demanda do início da noite (18h às 21h) para a tarde (13h30min e 16h), em grande parte devido à popularização dos aparelhos de ar condicionado. Por isso, no ano passado, quando o ONS voltou a examinar a retomada diante do risco de racionamento, concluiu que não ajudaria na solução da crise - o que acabou se confirmando.