Se o preço do petróleo não só não disparou nos seis dias de confronto entre Hamas e Israel, como está abaixo do patamar anterior à situação de guerra, - mesmo com alta de 1,4% até agora nesta quinta-feira (12) - é porque, até agora, não há envolvimento de grandes produtores no enfrentamento.
Além dessa característica, uma importante mudança na geopolítica do petróleo condiciona esse novo conflito no Oriente Médio: desde 2018, o maior produtor da matéria-prima no mundo não é um país árabe. Essa posição foi assumida pelos Estados Unidos.
Durante a pandemia, que no início causou grande desvalorização do petróleo - houve até preço negativo do WTI, tipo que é referência no país. A produção de shale oil (óleo de xisto) nos EUA sofreu, mas se recuperou, e o país manteve a posição de liderança no ano passado, que havia sido posta em xeque nos momentos mais críticos.
Do ponto de vista do impacto econômico do atual conflito, o grande temor é a eventual ampliação das forças envolvidas. As que provocam maior preocupação imediata são o Hezbollah - grupo islâmico libanês - e o Irã. O Líbano também não figura entre os maiores produtores de petróleo, mas como o Hezbollah tem poder de fogo muito superior ao do Hamas, seu envolvimento exigiria mais reforços a Israel, o que tornaria os desdobramentos ainda mais imprevisíveis.
A questão do Irã é muito mais complexa. O país é apontado como financiador e incentivador do Hamas. Por isso, quase todos os dias, há um desmentido sobre seu envolvimento ao ataque terrorista que matou e sequestrou civis em Israel. A Alemanha já empenhou sua palavra nesse assunto, o próprio Hamas fez questão de dizer que o país não participou dos preparativos que pegaram de surpresa o sofisticado sistema de defesa israelense, que gerou muitas tecnologias hoje disponíveis no mundo.
O Irã é o oitavo maior produtor de petróleo do mundo. Sua produção diária corresponde a 4,1% do total global (veja tabela abaixo) e já é afetada por uma série de sanções impostas ao país. Caso um envolvimento prévio seja provado, ou o país venha a se engajar, novos bloqueios seriam impostos, cortando parte do fornecimento atual, já limitado por força desse tipo de medida.
Mas os EUA não só são o principal produtor, como respondem por quase um quinto do total da produção global. É uma posição que sinaliza uma potencial estabilidade de abastecimento que não existia em momentos anteriores de conflito no Oriente Médio. Sua produção diária é de 17,7 milhões de barris ao dia, quase cinco vezes maior do que a atual do Irã, de 3,8 milhões. Aliás, é bom observar que o Brasil está em nono lugar, em termos quantitativos muito perto da produção iraniana: 3,1 milhões de barris diários, maior do que a do cobiçado Kuwait.
Maiores produtores de petróleo
Por ordem de participação na produção global
1. Estados Unidos 18,9%
2. Arábia Saudita 12,9%
3. Rússia 11,9%
4. Canadá 5,9%
5. Iraque 4,8%
6. China 4,4%
7. Emirados Árabes 4,3%
8. Irã 4,1%
9. Brasil 3,3%
10. Kuwait 3,2%
Fonte: US Energy Information Administration (EIA)